Sobre o pão francês e a felicidade que não se estoca

É possível estar por completo naquilo que o dia oferece, e vivenciar com integralidade cada momento, no exato momento em que ele acontece?

Pois é, pois é. Eu vinha voltando da padaria agora... que fui pegar um pãozinho e aí acabei lembrando de uma história que eu inventei e contei pra uma amiga um tempo atrás sobre café, sobre sexo e sobre a vida: o quanto que estas três coisas tem correlação pois, tanto o café, como o sexo, como a vida dependem da vontade, do preparo de um passar bem, fazer bem. Todos eles pedem um acompanhamento. No caso do café pode ser um café com leite, um café com cuscuz, com pão de queijo, pão na chapa, tapioca, enfim eu falava pra essa amiga que independente do aroma o que importa é quentura da vida, a quentura da relação amorosa e a quentura do café.

E a fila pra pegar o pãozinho tava enorme. Uma pessoa de outro estado falou assim: "a gente fala pão francês, a gente não fala pão de sal"

E aí eu acabei concluindo assim... num rápido insigth que a felicidade diária, a construção da alegria na vida da gente é um pão francês. Cê chama de pão francês, pão de sal, bisnaga, cacetinho, pão careca, o que for!

A felicidade é um pão francês e me fez pensar o seguinte: sabe aquela ideia de viver um dia de cada vez? né?

Muita gente confunde como viver tudo, tudo que há pra viver num só dia. E não é isso! Não é viver tudo num só dia e nem viver tudo de forma maluca e inconsequente de uma vez... essa ideia do carpem dien, como se diz? Não sei...

Viver bem o seu dia é na verdade você aproveitar suas 24 horas assim, com intensidade e viver o exato momento em que você está. Menos o ontem, menos o amanhã. Viver o hoje.

E o pão francês ele é isso né? O pãozinho que nós brasileiros gostamos tanto, é ritual. Não adianta você querer estocar, guardar o pão francês ele é sempre bom saindo do forno mesmo... O pão francês, ele é algo que combina com o que eu dizia do próprio café, quando a gente fala do café feito na hora, quentinho. O pão francês combina com tudo isso que eu falei. Com certeza ele é como se fosse cada dia que vai nascendo cada dia que a gente vai rejuvenescendo, construindo a nossa trajetória e, como alguns dizem, cada dia reserva um "leão" pra se matar. Um "leão" por dia.

Cada dia tem o seu desafio, cada dia tem aquela barreira que você tem que transpor, que você tem que superar, que você tem que ultrapassar.

Gente, não dá para estocar o pãozinho feito na hora, direto do forno, ou trocar por um pão guardado, o que alguns até gostam, esquentar no dia seguinte... Mas o dia é o que ele é por si só e cada dia é uma vitória! A felicidade é pão francês.

A alegria tem também o ritual, né? Do passo a passo, do pouco a pouco, do dia-pós-dia! Não adianta estocar felicidade, não adianta guardar pro dia seguinte. É isso: sabedoria popular. Sim! Esqueçam a culinária, esqueçam o que há de nutritivo no pãozinho. Fique com a ideia em torno dele. Fica aí aquela vontade de viver na sua plenitude! Vamos fazer o nosso cafezinho, gente! E o que há de melhor na prosa, o que há de melhor no olhar, o que há de melhor na dedicação que temos pra quem tá perto, pra quem nos ama e pra quem merece nosso amor, beleza?

Cleyton Borges (Crônicas no Rascunho)
Enviado por Cleyton Borges (Crônicas no Rascunho) em 05/10/2019
Código do texto: T6761521
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