EU

Quem sou eu? sou eu. E U. Sou a educação de meus pais. A educação da escola que frequentei. O máximo divisor comum de todos os meios que vivi. Sou a soma dividida das pessoas mais próximas a mim. Sou um livro de algum pensador que me identifiquei, também sou uma ideologia que aceitei como certa e premissa de vida. Sou um time de futebol, um politico que me representa... sou o jeito do cara do filme que gostei, a inspiração da música que me envolveu, sou um pouco das pessoas que me relacionei, sou dogmas e tabus da religião, sou as tiradas lacradoras que me garante minutos de fama entre amigos, sou a ideia de outro que assumi como minha, sou... na verdade, se pensarmos na construção de cada ser, que em síntese e comportamento, somos todos copias de copias de copias... o que me leva a crer que... sou merda nenhuma... se sou tudo isso, sou nada, nada relevante, nada novo, nada inovador ou que faça a diferença... minhas ideias correspondem a expectativa e fatos, como todos os demais, seja positivamente ou negativamente... somos predestinados a ser alguém ou algo, não pelo destino, mas pelo sistema social em que nascemos... muitos fracassam em relacionamentos, trabalhos, vidas por tentarem ser o personagem que lhes cabe dentro do rumo que seguiram... vemos isso nos extremos atuais políticos, apenas como exemplo... uma pessoas de direita obrigatoriamente é conservadora... e uma de esquerda, a antítese... e as pessoas, bem, vestem o personagem de acordo com a cartilha e manual disponível no consciente coletivo. Nesta de dinâmica em ser alguém, vestimos personagens que duram uma vida inteira, sem chegar perto do que ou quem poderíamos ser e representar, modificar, gerar mudanças no padrão repetitivo social humano... é interessante para a continuidade os padrões de ser, vista assim, haja assim, pense assim, se leu este ou aquele filósofo, se é deste ou aquele partido, se curte esta ou aquela música, se frequenta este ou aquele local ou grupo, tens que se parecer assim, sua conduta deve ser exatamente assim... se não, não será... aceito. O que torna tudo pior, e muito... será mesmo que vestimos personagens pela vida inteira apenas pelo fato de sermos aceitos? nos sentir inclusos e integrados a qualquer nicho, de um grande CEO a um punk... ambos precisam ser aceitos em seus meios, com seus personagens prontos retirados nas prateleiras disponíveis em nossas vidas... Hoje, por mim, percebo, que tudo que li, compreendi, entendi, me fizeram entender que, EU, não sou nada... confesso ser difícil começar do zero diariamente desconstruindo este personagem que foi camada por camada construído...quero que reste no fim de tudo, nesta minha existência, uma frase que me encherá de orgulho, aquele homem não foi ninguém, nada, não foi uma cópia definida de alguém e coisas que viveu, aquele homem, foi dentro dos padrões cotidianos, incompreensível... este é o único padrão aceitável de se repetir... o padrão de não ter padrão e ser um personagem de si mesmo por toda uma vida.