FANTASIAS

Não sei se sou meio desregulado, mas acredito que todo mundo, em maior ou menor grau, eventualmente se deixa embalar por fantasias que sabe que dificilmente realizarão. Nem são metas, apenas sonhos vagos. Eu jamais teria o sonho de morar em paradisíacas ilhas ou praias desertas, num esplêndido Castelo ou de ganhar na Loteria, por exemplo. Também não me imaginaria cruzando oceanos num barco aventureiro ou esquiando nos Alpes, muito menos percorrendo o Rio Amazonas e seus afluentes. Mas tenho a fantasia de morar em Anchorage, no Alaska, que só conheço da literatura e de filmes. Para fazer o quê? Nada, só beber, curtir a culinária local, dormir, sentir frio e, no máximo, escrever crônicas fresquinhas. Voar de asa delta não é fantasia, é uma boa ideia que ainda posso concretizar, só me faltaram, talvez, oportunidade e companhia vibrante. E, também, vencer o comodismo. Morar alternadamente em Gramado não é fantasia, mas possibilidade real, ainda que difícil, por ora. Não tenho a fantasia de uma longa vida, mas uns dez anos a mais cairiam muito bem, com saúde. Não me atrai morar no litoral, nem no Rio, Floripa ou Maceió, até preferiria Brasília, vejam só. Já se diluiu a fantasia de residir em Lisboa ou Paris, jamais em Nova York ou Miami. Cada um com seu cada qual: nunca teria um barco, uma lancha, um iate, mas, embora não seja fantasia, adoraria poder viajar sempre de primeira classe em avião. Não por frescura: se pudesse fumar na classe econômica, ficaria conformado. Minha mais absurda fantasia, espécie de “déjà vu”, é comprar um belo sítio para reunir periodicamente família e amigos, com muitos cães ao redor. Herança cultural do pai, que era afeito às lides campeiras, diferentemente de mim, que sou urbano. Fica para uma próxima encarnação. Por ora, no máximo, certo desejo de passar dois ou três numa estância, no inverno, degustando uma paleta de ovelha no galpão com a peonada, para, depois, estirar-me em rede perto do fogo, cercado pelos cuscos, ouvindo trovas, milongas e rancheiras. É coisa que já fiz no passado e que poderia eventualmente repetir. Mas para materializar determinados sonhos, mais prático é escrever a respeito.