Palavra Solta – no escondido

Palavra Solta – no escondido

*Rangel Alves da Costa

No escondido, longe de todos, afastado dos olhares, sem vigílias e censuras, o ser se completa em si mesmo. No demais, apenas um ser falso consigo mesmo. Perante todos, procura ser bonzinho para agradar, tem que sorrir para não ser desagradável, finge ser o que realmente não é, ao menos naquele momento. Mas no escondido não. Oculto, escudando em si mesmo, pode chorar, pode falar sozinho, pode fazer careta em frente ao espelho, pode ficar nu no quarto, pode dançar uma valsa vienense, pode simplesmente fazer o que jamais faria perante outra pessoa. É no escondido do quarto que a saudade aflora e o amor é revelado em máxima dimensão. Chora, chora e chora. Faria isso na sala da casa? Lógico que não. Deita na cama e pergunta pelo nome, deseja uma presença, bate na parede, chuta o travesseiro, arremessa o jarro ao chão. Noutro lugar, com a presença de gente, certamente que se sentiria intimidada. Limpa os dentes com o dedo e toca no seu sexo. Abre a janela e avista o mundo. Ninguém sabe que nua está na parte de baixo.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com