As dita-cujas
Mais uma vez, por incentivo da minha irmã, andei tentando conhecer algumas garotas em um aplicativo de relacionamento chamado Pof. Um desses aplicativos onde qualquer homem carinhoso, inteligente e que “não seja um escroto que só pense em sexo”, pode conquistar a mulher da sua vida, bastando apenas – caso esteja disposto a se anular um pouco, ou, completamente – que tenha os mesmos interesses, gostos e opiniões de boa parte das Ditas-Cujas do outro lado: barzinho, cineminha, séries, Netflix, vídeo game, academia, shopping ... (o que houve com Litrão barato, hein?)
Entretanto, há quem diga que existe uma grande diferença entre, “estar à procura de alguém igualzinho a você”, de “estar à procura de alguém com alguns interesses comuns aos seus”. O que não deixa de ser curioso, pois, se a fulana gosta tanto assim de si, porque cargas-d ’águas não se contenta em ficar apenas consigo mesma? Sem falar que boa parte dos perfis de descrição, não condizem com a realidade. Simplesmente as pessoas se descrevem de uma forma, mas quando vistas mais de perto, na verdade elas são bem pouco daquilo que dizem ser. Uma delas, por exemplo, dizia estar à procura de alguém leve e divertido, pois, ela própria o era. E como era! Uma pessoa leve como uma pena. Leve como uma pena de concreto na asa da estátua do Anjo Gabriel pousada lá na Praça lV Centenário. Se dizia também totalmente desapegada aos bens materiais, pois, o que realmente tinha valor para ela, era o caráter do cara, sua inteligência, sua educação, seu bom humor e simpatia. Porém, como nem só de abstrações vive o homem, em todo caso, antes de mais nada, a princesa achava indispensável uma carruagem que lhe buscasse e levasse até o seu humilde palácio, que futuro Morzão tivesse uma boa profissão e lhe transmitisse no desenrolar do papo, a segurança financeira que ela precisava para a relação dar certo.
Na verdade, tudo parece não passar de uma representação da auto-imagem. Ou seja, aquilo que a pessoa por algum motivo – talvez influenciada pelo que, na cabeça dela, exige a sociedade a sua volta – tenta construir a seu próprio respeito. Das três, uma:
1- O sujeito realmente está propositalmente querendo iludir.
2- Ele de fato acredita que é aquela pessoa, mesmo não sendo (o que pode ter a ver com alter ego, sei lá).
3- Ou ele se nega a si mesmo.
E o que quero dizer com “negar-se a si mesmo” é que, como dizia aquele carinha lá, o tal do Freud, “a negação é o primeiro sinal da culpa. Um mecanismo de defesa do ego.” Ou seja, a pessoa nega o que de fato é, por autodefesa, e, creio eu, para poupar a energia do esforço que teria de despender para se tornar realmente um ser humano melhor. Porém, a pergunta que não quer calar é a seguinte: por qual motivo razão e circunstância a pessoa faz questão de ser/fazer, o contrário daquelas boas qualidades que diz ter? Ou pior, por que muitas nem percebem que estão agindo ao contrário?