EU E A SANTA

Fui batizado, fiz a Primeira Comunhão na Igreja Matriz de Encantado, estudei dois anos primários na Escola Madre Margarida de Encantado, assim como os quatro anos ginasiais no colégio jesuíta Anchieta de Porto Alegre; casei-me no religioso, batizei meus filhos, mas não tenho muita certeza de que seja católico. Acho que sou um livre pensador, que não curte etiquetas, ícones, fórmulas e liturgias. Seja como for, pertenço, no endereço residencial de hoje, à Paróquia de Nossa Senhora de Lurdes e regularmente recebemos, aqui no apartamento, o pequeno oratório de Nossa Senhora, tal como desfrutei por muitos anos no apartamento de meus pais, na Avenida Senador Salgado Filho, 23° andar, Edifício Jaguaribe. Quero enfatizar que continuo a receber a Santinha com o maior respeito. Meu agradecimento à Santa advém de vários motivos, mas, tenho de confessar que um deles tem natureza levemente econômica. Lá pelos meus 17 anos, sempre duro e ávido por eventos, algumas vezes ajeitei um clips para pescar, pela fenda da capelinha de madeira, o que fosse possível de bilhetes monetários para viabilizar a noitada, geralmente mixaria, mas dava, no mínimo, para o bonde. Nunca achei que fosse pecado mortal, pois, no fundo, era ralação com a Cúria e não com a entidade sacra. Disciplina familiar rigorosa, mais 4 irmãos, mesada simbólica, muitos apelos festivos, tinha a certeza de que a Santinha aprovaria meu embate contra a poderosa Mitra Arquidiocesana, o Vaticano, enfim; não conheço bem o Direito Canônico. Passado o período juvenil do “salve-se quem puder”, fiz donativos e contribuições benemerentes para retribuir “as graças alcançadas”. Então, mesmo sem qualquer vínculo com o catolicismo, recebo a Santa sempre e com todas as honras, sem deixar de dizer as rezas que aprendi nas minhas aulas de catecismo. Afinal, é como dizem: “Deus ajuda as crianças, os bêbados e os necessitados”.