GALO VELHO

Bem, não sou – longe disto – melhor do que ninguém, talvez até piorzinho, mas acompanho a narrativa de algumas façanhas de amigos e sei que há muito galo velho cacarejando por aí. Peço licença, pois geralmente venho da rua, com chuva, vento e frio, depois de atento e zeloso passeio com os três cachorrinhos. Eventualmente molhado, asmático e rinitoso. Os passeios são todos os dias e noites, mesmo quando chego às quatro horas da madrugada, faça frio ou calor, chova ou não. Em Gramado, houve ocasiões em que não se enxergava três metros à frente, pela espessura da neblina, temperatura a zero grau. E não adianta tentar explicar para os poodles que tu estás com sono ou gripado, febril, cansado, seja lá o que for: a pressão é conjunta e forte, com hora marcada pelo relógio biológico. Irresistível e comovente é o apelo. Então, meus amigos, bato palmas a todas as aventuras e entreveros dos companheiros, mas, neste terreiro aqui, também canta um “galo velho”, como se escalasse o Everest - o que é prazer puro para um esportista radical. Por isto que tenho vontade quase incontrolável de dar chineladas em quem se mete a dizer isto ou aquilo com relação ao viver dos bichinhos, que precisam muito do nosso respeito, paciência e abnegação. Não gosta? Vai morar num palácio ou numa cobertura bem sofisticada, com valetes e serviçais e, de preferência, que nunca tenha filhos ou netos. Se não possui grana, serve uma novela da Rede Globo e bastante cachaça ou, melhor ainda, aquele bucólico refúgio na mansuetude da vida nativa, longe, bem longe da modernidade e inerentes complicações. Não gosto de maltratar ou matar qualquer inseto ou bicho, só baratas, a pedido, ou melhor, por exigência da mulher. Já com morcego, o galo velho aqui confessa que vira pinto: sou “machocho”, mas não sou fanático.