Quem não gosta de samba
(Samuel da Mata)

Toda vez que ouço um pandeiro, a minha garganta se aperta e lágrimas me enchem os olhos. Minha alma se agita e se desespera, como roupas no varal nas horas que antecedem as grande tempestades. 

Eu só tinha cinco anos quando ganhei um pandeiro colorido, logo no inicio da noite. O pandeiro era lindo, mas achei estranho o fato de tê-lo ganho sem que fosse qualquer data comemorativa. Meu pai não tocou o pandeiro comigo. Entregou-me o presente, deu-me um abraço seco e afastou-se meio engasgado, como quem engole um soluço.  

Eu já estava entregue ao samba, quando minha mãe me chamou. Abraçou-me calada, mas de uma maneira tão forte que quase me quebra os ossos. O afago demorava, mas também me continha. O coração de mamãe acelerou-se e ela tremia como uma vara ao vento, enquanto meu pai abria vagarosamente a porta e saia de casa para  nunca mais voltar.


 
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 10/09/2019
Reeditado em 02/08/2021
Código do texto: T6741507
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