RELAÇÕES DE CASAIS

Casais que mantêm longa relação, mais de 40 ou 50 anos de vida em comum, são exceção. Deve ser a meta - aqueles que recém estabeleceram uniões não podem desanimar – mas todos sabem que é difícil chegar lá, sobretudo nestes tempos novos. É preciso compreensão, solidariedade, maturidade e sabedoria. Já li aqui e ali que a paixão é uma reação química que costuma durar dois anos, talvez três. Não sei, é possível, mas a vida a dois tem de ser construída sobre bases bem mais sólidas, como afinidade, admiração, mútua compreensão e companheirismo. Companheirismo, aliás, não é fazer tudo o que o parceiro faz, gosta ou quer fazer, já que as pessoas são diferentes. É preciso uma dose de liberdade individual, o que é quase impossível com filhos pequenos. Fui separado, mas venho de família onde, se é que existiram, aconteciam raríssimas separações. Mas era um mundo diferente, mais acomodado, no andar da charrete, com outros valores, inclusive a gente casava mais cedo, em geral. Modernamente, tudo é movediço e as emoções demandam adrenalina e novidades. Todos anseiam por mais amor - cujo conceito ainda não consegui compreender totalmente. Será que existe modelo, manual? Cansei de debater estas questões com amigos e amigas próximos, mais jovens, e cada vez me convenço de que as pessoas tornaram-se impacientes, querendo de tudo – o que merecem e o que não merecem. Há certo “vampirismo” rondando a humanidade. Quando atingi o ponto de me dar conta do que ocorria à minha volta, maior de idade, tive noção de que minha mãe não era mais apaixonada por meu pai, mas lhe devotava carinho, admiração, amizade: ela já tinha uns 40 e poucos anos. E o pai era marido muito bom, descontadas suas idiossincrasias. Me parecia, no entanto, que a história que construíram - mais os 5 filhos - formava um esteio afetivo inabalável. Não havia jantares à luz de velas, flores, viagens a paraísos naturais, palavras ou gestos candentes. Ouviam música, assistiam à televisão, eventualmente viajavam, passeavam, tentavam educar os filhos e conviviam com os parentes. O velho adorava passar fins de semana na fazendola da Barra do Ribeiro, a mãe acompanhava, mas preferia a casa de praia em Xangri-lá, para onde também ia o pai, não com idêntico prazer. Justo. Os filhos, por fim, crescem e tomam seu rumo. É quando se destacam definitivamente duas coisas: afinidade ou parceria e o lado individual de ocupar o tempo e curtir, sem excessiva dependência. Assim, foi bom ontem, é bom hoje e será bom sempre.