ALGUMAS VERDADES

ALGUMAS VERDADES

*Rangel Alves da Costa

Existem muitas verdades, mas algumas verdades nos servem mais, e assim por espelhar o que somos, como agimos na vida e como nos relacionamos perante os demais.

Tudo como visão de mundo. Mundo este refletindo a própria personalidade. Ou mesmo uma opção de viver de uma forma quando muito bem se poderia viver de outra.

Se eu sempre passasse de carro possante e vidraças escuras fechadas, certamente não teria como me aproximar de você para falar, para abraçar, para compartilhar o prazer da amizade.

Se eu usasse anéis dourados nos dedos de unhas afinadas, certamente teria as mãos limpas e finas demais para serem estendidas em direção a toda mão, e mão endurecida da luta, calejada de tempo, marcada pela vida dura.

Se eu satisfizesse meu ego apenas atrás de um birô e só atendesse que me chamasse de “dotô”, certamente não deleitaria o prazer de caminhar pelas ruas, virar esquinas, passar pelas calçadas e janelas, bater à porta, conversar com um e com outro.

Se eu “quisesse ser importante demais, seria uma chiqueza só”, roupa na goma, sapato brilhoso, um boçal idiota entre humildes e conterrâneos. Passava e nem olhava, virava esquina sem me importar com que quer que fosse.

Se eu, com a cara mais safada do mundo, quisesse ser o outro e não o que verdadeiramente sou, até o nome eu esconderia, fingiria nem ter sobrenome nem família, que meu sangue não é igual ao de todo mundo e que não venho da mesma raiz de um chão sertanejo.

Se eu quisesse me meter a besta, achando que vivo em pedestal e que nunca posso tropeçar em ponta de pedra e cair, até que eu poderia colocar paletó e gravatá e subir no alto da igreja apenas para me mostrar, e como se lá embaixo estivesse apenas uma gentinha qualquer.

Existem realidades e verdades na vida que são inegáveis. Ninguém é mais ou maior que ninguém. O poder é fogo que apaga e cinza que some. O egoísmo serve apenas para tornar a pessoa distante de todo mundo, fria, amarga e solitária.

O gibão é roupa vaqueira igual a uma roupa qualquer. E por que, com minha roupa chique, eu teria de nem passar perto do animal e do vaqueiro? Aquele que passa de roló velho ou de chinelo pregado com arame, juro que em nada se diferencia daquele que passa de sapato e meia.

Meu pai, um senhor chamado Alcino, que também cortava caminho levando havaianas nos pés, dentre muitas lições, eis que me deixou uma escrita: “Ninguém vive sem precisar do outro. E aquele de quem você fugiu para não encontrar, mais tarde será o mesmo que você tanto procurará!”.

Sigo a lição de meu pai. E digo ainda: Nada melhor que ser assim!

Escritor

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