FUTEBOL E TEMPOS MODERNOS
Frequentei muitas vezes o Estádio das Cabriúvas do Esporte Clube Encantado, onde aprendi a soltar foguetes e em cujo campo também disputei algumas partidas de jogo amador, em idos tempos. Gremista dos quatro costados, compareci várias vezes ao Estádio Olímpico – OLÍMPICO MONUMENTAL – inclusive, com o filho Tiago, na inesquecível conquista da Libertadores, em 1983. Também estive, com os irmãos Ricardo e Roberto, ainda piás, nos jogos da inauguração do Estádio Beira-Rio, em 1969, onde se deu o célebre GRENAL da “pauleira”. Aliás, com meu tio colorado Cícero Castello Branco, fui a dois GRENAIS nos Eucaliptos, eu com onze ou doze anos de idade, e vibrava intensamente nos gols do Grêmio, para constrangimento do tio e cara feia da torcida, no miolo da Geral. Em verdade, poucas vezes achei um grande programa comparecer a estádios de futebol, depois que o filho cresceu ou depois de eu próprio ter ficado mais crescidinho. Mas adoro futebol: gosto tanto que até goleiro de time de futebol de salão amador da Cidade Baixa eu me tornei para disputar campeonatos, nos tempos Anchietanos (Piratas). Por outro lado, não assisti a nenhum jogo na ARENA até hoje, somente lá compareci duas vezes para votar como associado do Clube. O que desejo dizer é que o espetáculo mudou muito. Era barato, ficou bem caro. Os jogadores não ganhavam tanto, antigamente, e a exploração mercadológica do esporte não tinha a enorme dimensão que ganhou. Praticamente não mudavam as camisetas dos clubes, havia mais garra, mais emoção, vendia-se livremente bebida durante os jogos, era raro jogador do Grêmio vir a jogar no Colorado e vice-versa e não havia a profusão de campeonatos como hoje. Os jogos preliminares eram ótimos, geralmente entre os juniores dos grandes times. Claro, compareciam menos famílias aos estádios, mas a turma da “coreia” ou da “geral” fazia barulho e espetáculo, com suas charangas e figuras folclóricas. Agora, tudo é um grande show, quase um piquenique de altos preços e grandes lucros publicitários. Coisas de Primeiro Mundo, que pouco têm a ver com nosso estilo mais tosco e simultaneamente descontraído. Sou saudosista, conservador, mas sei que muita gente concorda. Ofender o adversário pode ser considerado crime e, dentro de algum tempo, será proibido falar mal da senhora genitora do árbitro: acabou a catarse do povão, a espontaneidade, em prol da superprodução, do interesse comercial e do politicamente correto. O bom era a confraternização entre engraxate, biscateiro, desempregado, executivo e filósofo, de qualquer cor ou credo. As mulheres eram alvo de assobios, chamadas de “gostosas”, mas nunca testemunhei coisa mais pesada. É o mesmo que passar ainda hoje por obra com muitos operários. E, nas quatro linhas, divertido era ver o Ortunho sentando o serrafo no arisco Sapiranga.