30 DE AGOSTO DE 1988

Dia 30/08/88, dentro de semana, fará 31 anos, exatamente, que deixei minha residência na Vila Assunção, ex-mulher e filhos, em virtude da concretização da separação judicial que ajustara amigavelmente. O fato em si até pode parecer banal, mas aproveito o ensejo para reafirmar que a nossa existência pode oferecer muitas surpresas, transformações e riquezas, por mais improvável que isto possa parecer nas conjunturas delicadas e duvidosas. A residência, aliás, hoje é prédio para locação comercial. Os momentos emocionais, profissionais, sociais e econômicos foram diversificados nesta longa trajetória, com enormes desafios, novas exigências, propostas e metas, comprovando que o ser humano é sempre capaz de reconstruir-se, adaptar-se e de viver muitas vidas, a qualquer tempo. Nada é muito ruim ou muito bom, tudo depende da gente, da compreensão do fluxo existencial e de nossas reações dentro dos diferentes cenários que vão se desenhando à medida em que caminhamos e avançamos. Permanecer ou partir são conseqüências maiores do que episódicos desejos, pois decorrem de uma série de escolhas passadas, consumadas - conscientes ou não - inerentes à nossa história pessoal e jeito de ser, forjado desde o berço. Somos herança genética, cultural e, principalmente, produto de nossas próprias experiências de vida. O importante a compartilhar, enfim, é que a gente só vai mesmo se conhecer ao longo dos anos, segundo as fases lunares, descobrindo, ao lado de defeitos e carências, uma dose poderosa de energia para ganhar o mundo, rasgar horizontes e ultrapassar qualquer barreira. A data antecede a promulgação da nossa Carta Magna, hoje tão alterada. Tinha 42 anos e estava casado desde 11 de dezembro de 1970, com um casal de filhos. Creio que, na minha família, se não fui o primeiro, fui dos primeiros casos de separação. Naquele ano, fazia um inverno rigoroso: há lembranças que não se apagam, o que sempre me parece positivo.