QUAL A MOEDA DO FUTURO?

Sou do tempo do cruzeiro, aquele cruzeiro – moeda oficial – que surgiu em 1º de novembro de 1942, em substituição ao réis, vigente desde o Brasil Colônia. Mil réis passaram a valer um cruzeiro. Das nove moedas que já possuiu o Brasil, tive de me virar com oito. Quero lembrar com saudade dos tempos anteriores à Brasília, fundada em 21 de abril de 1960 (inflação), especialmente antes das crises do petróleo, notadamente dos anos 70. Não havia tantas novidades, conquistas ou desfrutes tecnológicos, mas com uma notinha de um cruzeiro eu comprava no interior, na sempre lembrada Encantado, 20 caramelos na bodega de madeira na esquina da nossa rua, em frente ao Salão Paroquial, ano após ano. Tempo de calças curtas com suspensórios, guarda-pó, japona, galochas de borracha, fogão a lenha, banha de porco, leite mugindo no tarro, banhos de rio, sorvete artesanal de qualidade, grapete, crush, laranjinha, soda limonada e meninas lindas de meias brancas soquetes. Tempos de missa aos domingos e olhares compridos. Bom, não quero me perder em lembranças nostálgicas – coisa boa – mas questionar alguns aspectos da nova ética e da nova estética contemporâneas, já que também elogio as conquistas. Se a religião católica vacilou, não evoluiu, pecou demais e perdeu espaço, ficamos sem rumo e disciplina, por mais que se possa criticar a cultura dos velhos tempos. Imagina só obrigar o guri de hoje a rezar a cada início de aula, a confessar ou a comungar naquelas longas missas em latim. Bah! Os professores disciplinadores de outrora seriam massacrados hoje, pelos pais, se antes não o fossem pelos próprios alunos. Até nas Faculdades, notadamente particulares, os alunos geralmente têm razão contra professores, tornando sempre polêmicas as notas baixas atribuídas e as reprovações: é um festival de professores amigos de turmas, o que é muito bom e admirável, salvo certo rigor no exame da matéria. Resumo de leituras para vestibular em textos enxutos, pré-prontos? Nem pensar, meu caro: ou você lia e respondia o fundamental na bucha, ou nada feito. Havia prova oral e, nas escritas, a gente escrevia longos textos, se soubesse. Claro, não pululavam escritores de escol, mas os clássicos são os clássicos, insubstituíveis, imortais. Os demais via de regra passam. Ainda acho que, entre mortos e feridos, salvam-se todos, mas a vida tende a ficar bem mais dura para os que não se exercitam para a peleia árdua. E atenção: nem todo mundo tem a obrigação de virar “doutor”.