Palavra Solta – bem-aventurados na fé sertaneja

Palavra Solta – bem-aventurados na fé sertaneja

*Rangel Alves da Costa

Uma voz ecoada em meio às catingueiras e carrascais, em cima da pedra grande, na beirada do riacho seco ou do tanque já barrenta pela falta d’água. Uma voz surgida na estrada de chão, na vereda, na malhada da casa empobrecida, perante as porteiras e os currais. Uma voz que ecoa o próprio povo sertanejo. Bem-aventurados os pobres sertanejos, porque deles é esse sertão injustiçado, mas glorificado pelo Senhor. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados, terão chuva em abundância, colheita com toda fartura, comida sobre a mesa e alegria no coração. Bem-aventurados os mansos, os pacientes, os que não se desesperam diante do sofrimento, porque herdarão a terra, e uma terra molhada, com grão semeado e a força de cada um para remover a terra até dela sair o broto, o fruto e o significado da vida do sertão e do sertanejo. Bem-aventurados os que têm fome e sede não só de Justiça, mas também de clemência das autoridades, do olhar piedoso dos governantes, de compreensão de quem desconhece essa vida e de quem vê tudo isso e se faz de fingido. Porque precisamos também ser fartos dessas coisas que o mundo pode oferecer. Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão a Misericórdia, pois mesmo na terra seca semeamos a bondade, no chão ressecado da lagoa semeamos a esperança, no irmão desconhecido semeamos a amizade, e nos nosso corpo enfraquecido semeamos a prece e a oração, com a certeza de que Deus não nos faltará.

Escritor

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