Palavra Solta - puteiro
Palavra Solta - puteiro
*Rangel Alves da Costa
Puteiro vai se tornando raridade, eis a verdade. Zequias chegar a molhar os olhos quando toca no assunto. Antigo caminhoneiro, diz ele que a cada quilômetro de estrada existia mais de dez puteiros, ainda que na qualidade das mulheres um só não fosse avistado. Relembra saudoso de Joaninha Boca de Veludo e de Titoca Rabuda. Segundo ele, num tempo mais distante, assim que encontrou Joaninha como menina nova, descida do recôncavo de pouco tempo, até deu vontade de pedir a mão em casamento. Mas pedir a quem? Imaginou falar com a cafetina, com Gorducha, dona do bordel, mas sabia que o noivado não ia além de dez ou quinze minutos. Titoca também é de viva recordação em Zequias. Também jeitosa, esbelta, morena jambeada, mas depois começou a engordar tanto que o seu preço foi baixando igual banana de resto de feira. O tempo passou, Zequias encostou o caminhão e nunca mais entrou numa casa de luz vermelha e cheirando a limão e sexo encardido. Gostava de visitar puteiro só pra sentir a presença daquelas mulheres em seu comércio. Não deitava mais com nenhuma, até mesmo por medo de doenças, mas gostava de ouvir Waldick Soriano na vitrola, uma e outra pedindo um conhaque falso, uma ponta de cigarro ou uma esperança de vida. “Me tire daqui. Pelo amor de Deus me tire daqui!”, certa feita ouviu. Saiu sem olhar pra trás. Entristecido, chorando.
Escritor
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