Roda Gigante


Os relatos que farei parecerão fantasiosos, mas não são, quando se deparamos com os nossos medos de forma crua e verdadeira, aprendemos a controla-los ou se deparamos com uma situação que o medo tomará conta e nos tornará refém das suas reações. Assim aconteceu comigo. Era uma linda tarde de sábado, sou do interior, logo o lugar onde estava aspirava, requinte e sofisticação.
Um shopping, com a minha filha e a minha esposa.
Não sei quanto a você, eu adoro bater perna nestes grandes centros, comprar uma casquinha de sorvete e passear, olhar vitrine e pessoas. A propósito, contrasta perfeitamente com a calmaria do interior, pessoas apressadas, andando pra lá e pra cá.
Nas praças de alimentações sempre cheias, e com filas!
Que felicidade estava no Shopping.
Eu como todo o pai que se preze, deixou a esposa, e a filha de 6 anos passeando nas lojas de departamento e sentei com grande alegria em um sofá que eles dispõem no andar térreo. A grandiosidade colossal para um cara
do interior. Eu, é dos seus quatro andares, o último com cinemas e praças de alimentação e ultimo onde estava. Lugar de usar o WiFi grátis do estabelecimento. Até tentei, no entanto, não consegui sinal. Umas cinco horas da tarde, encontrei a esposa e a filha, agora iriamos passear na praça a frente daquele lugar de compras. Um vendedor qualquer disse que estava tendo uma feira na área externa.
Nós pobres de maré bessi, queríamos comer aquele pastel de feira, antes de pegar a estrada e voltar para a nossa cidade do interior sem graça.
Quando estávamos na área de fora o sonho de qualquer criança estava concretizado
um grande parque de diversões.
Confesso que já me acostumara com parques horrendos sem equipamentos na minha cidade. Roda Gigante? Montanha Russa? Nunca apareceriam por lá. Naquele parque maravilhoso tinha de tudo. Roda Gigante, Montanha Russa, carrinho de choque, carrossel, e uns brinquedos esquisitos que não me recordo o nome. Passeamos, a esposa foi comprar os tickets foram 4. Eu fui com a filha pescar, os brinquedos que sempre tem nestes parques, a menina toda feliz, com seus brinquedos. Olhou para o alto apontando para o que ela queria andar.

 
A roda Gigante.
 
Meu coração suspirou de emoção, era muito alto aquele treco, e a menina destemida apontando para o brinquedo, que para mim, parecia um objeto de tortura. Disse que não. Falei para a esposa ir com ela no carrinho de choque, precisava assuntar e observar de perto tal brinquedo, era muita coragem para um jovem do interior encarar tal empreitada. A fila não estava grande já eram umas cinco e meia, uma tarde de primavera, só observava uma coisa. A roda Gigante era grande. As pessoas entravam em pares em uma espécie de gaiola, os dois rapazes, magricelos com seus 17 anos e cheio de tatuagens, faziam os acertos da carga, cito pessoas, e fechava a gaiola e ligava o maquinário para rodar. Fiquei a observar a dinâmica do trabalho dos rapazes, e também observei bem que os equipamentos eram antigos. Não sentia segurança em nada.
O parque estava fervendo, eram pessoas comendo
algodão-doce, pra lá, eram pessoas nas roletas de apostas pra cá, as barracas de tiro de espingardas de pressão, puro roubo, ninguém acertava nada. E eu esperando a esposa terminar a (sessão) carro de choque.
Em meio a observação, meus olhos estavam fixos na Roda Gigante, e meus traumas de infância vinham firme e forte, eram um medo gigantesco o meu de altura. Olhava as pessoas gritarem lá de cima e me sentia eu no lugar delas, observava que eram gritos de alegria e emoção nada de covardia. A menina terminou a sessão.
E veio a frase
que me deixaria em choque.
— Pai, vamos à Roda Gigante? Vamos, vamos! A mulher olhou aceitando, e disse para ir logo, pois estava entardecendo e esfriando, era a saideira do nosso passeio. Eu confessaria o meu medo de altura?
Eu diria algo para atrapalhar os sonhos da guria que puxava as minhas
calças empolgadas em ir naquele brinquedo horrendo e assustador?
— Vamos, falei no impulso.
Até tentei negociar com a esposa, ela disse que era a minha vez, já tinha
ido ao carrinho de choque. Vai eu na fila, ajeito boné, a menina empolgada e eu suando frio. A minha última esperança de sair ileso daquilo era. Uma espécie de marcador de altura, que aqueles empregados usavam para autorizar ou não a criança de subir naquele treco. Infelizmente a altura autorizou, a guriazinha tinha um metro e vinte já, logo poderia ir ao brinquedo, também se a coitadinha não fosse, não estaria contando a você leitor o relato que esta por vir. Eu e 
a menina chegamos no nosso destino. A gaiolinha. Entro e observo o quão duro era o banco, o feixe de fechar não tinha nada de proteção, ela rodava com o movimento e o pior. O cinto de segurança nada mais era do que um ferro que a mim, segurava bem, meu corpo era proporcional ao brinquedo. Mas a minha filha era um salve-se quem puder. Senti a imprudência do meu ato em aceitar tal sandice, precisaria daquela loucura, era um total disparate se propor àquele treco. Apesar de suar frio de nervoso, precisava manter a aparência de normalidade, seria muito constrangedor a todos um homem feito dando pit em plena adentrada a aventura.
Fiz sinal e pedi pra esposa vir buscar o celular, ainda bem que o fiz.
O homem fechou a gaiolinha, a mim, parecia não ter abotoado direito a fechadura.
— Estaria eu envolto a abrir a porta daquele enclausuramento nos rodopios que viriam a seguir?
Era somente o meu pensamento naquele momento. E ligou. A filha deu gritinhos de alegria. Eu fechei
meus olhos não queriam nem ver. Olhava nas gaiolas ao lado, os adolescentes provocando o rodopio daquilo que era móvel, e entendi que precisava ficar quieto sem se mexer para evitar qualquer emoção forte.
Abri os olhos
rápido, e observei que o cinto de segurança deixava a minha filha solta.
Entendi a irresponsabilidade minha, estava a uns 10 metros de altura com uma criança indefesa e desprotegida. Abracei ela tentando do melhor modo a ancorar no meu corpo.
A noite se aproximava no horizonte, sentia o vento gelado na cara, e estava nas alturas com a minha filha. A cada rodada do brinquedo entendia o quão louco eu fui. A loucura se deu por completo quando a escuridão tomou conta da cidade. Eu a olhava lá do alto. No frenesi abria os meus olhos e sentia o horror da altura e de não ter o controle da situação. Entendi que era um apagão. E estava eu no pior lugar que se poderia ficar naquele parque.
No alto da Roda Gigante. Comecei a orar, sem nexo, dizia: O Sangue de Jesus tem poder, fecha os olhos filha e não abra.
A gaiola se movimentava querendo virar. Eu escutava os adolescentes gritarem na gaiola ao lado. Aqueles gritos me apavoravam mais e mais. No alto daquela Roda gigante meu boné caiu.
Passou da gaiola, e foi caindo devagar entre as estruturas do brinquedo. Eu abraçava a minha filha tentando a proteger daquele cinto de segurança mal projetado.
Foram minutos intermináveis, estaria eu sem ação naquele brinquedo. O frio me castigava e a perda do boné me fez compreender que se eu não me cuidasse era eu caindo ladeira abaixo. Olhava a porta daquela gaiola que parecia querer abrir, e observava que o vento queria fazer a gaiola virar. Eu clamava forte: O sangue de Jesus tem poder. A filha na inocência das crianças perguntou.
— O que foi pai, por que esta demorando tanto aqui em cima?
— Nada filha calma, por tudo que há de mais sagrado não olha para baixo.
Senti o terror naquele parque, não era proteger-me, era proteger a minha criança que irresponsavelmente levei para o perigo.


Quando minhas forças da imobilidade e do medo estavam se esgotando, o troço retornou a girar, tristemente tive que dar mais umas duas voltas naquilo. Olhei pra frágil criança ao lado, sorria, tudo era festa pra lindinha,
— A mim? Todo mijado, tive que disfarçar a viagem inteira o meu medo de altura. Boné? Já era, foi um susto que não desejo ao meu pior inimigo aquilo lá.
Voltei a minha cidade do interior, não apareceu nenhum palhaço assassino na estrada, nem observei corpo nenhum mutilado no trajeto de volta.

Todavia, existe medo maior do que eu senti?

Me conte, ficar uns 15 minutos no alto, abraçando uma criança num brinquedo enferrujado prestes a quebrar, soltar, abrir? A sustos e sustos, o meu foi de mijar nas calças
.

Créditos: fotos pixabay
Waldryano
Enviado por Waldryano em 07/08/2019
Reeditado em 10/08/2019
Código do texto: T6714910
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.