MARCILEIDE, CONFESSO AO MUNDO...

MARCILEIDE, CONFESSO AO MUNDO...

*Rangel Alves da Costa

Marcileide Sarmento, a amiga Marcileide, a Tia Marcileide, a educadora Marcileide, a festiva Marcileide, a sorridente, bondosa e encantadora Marcileide, a incansável lutadora e vitoriosa guerreira Marcileide, partiu na última terça-feira 30 de agosto, em inesperado e triste adeus.

Repeti muito o nome Marcileide? Jamais, pois este nome se repetirá a todo instante na vida de Poço Redondo. Pessoalmente, eu me sentia orgulhoso demais por poder sempre contar com a sua singeleza amizade. E ainda mais pelo fato de que ela cultivava muitos de meus planos e aspirações: através de seu centro educacional, tornou0se uma permanente batalhadora pela preservação de nossas raízes e tradições culturais.

Juro que muitas vezes eu chegava a dizer a mim mesmo: “Marcileide só pode estar gastando do próprio bolso pra fazer acontecer coisas tão belas e grandiosas em Poço Redondo. Não é fácil nem barato fazer o que ela faz. E qual a intenção desta mulher em formar grupo de xaxado com seus alunos, o que vem à mente desta mulher ao organizar passeios e práticas esportivas pelas ruas e avenidas, qual força que move esta mulher que sempre procura oferecer o melhor no seu centro educacional, através de comemorações histórico-festivas, de feiras de ciências e outras atividades educacionais?”.

E ainda eu me dizia, indagando: “O que realmente quer esta guerreira Marcileide ao tornar um desfile cívico numa verdadeira aula sobre a história de Poço Redondo? Quem imaginou que, através de uma iniciativa privada, pelas vias públicas da cidade pudesse passar a galeria de ex-prefeitos, as atrações turísticas, o histórico da formação, seu percurso de vida, até os dias atuais destas bandas sertanejas?”. E eu me perguntava encantado, orgulhoso, admirado demais com tamanho engajamento e determinação desta agora saudosa mulher.

Mas minha amizade com Marcileide já remonta outros tempos e diversas outras situações. Todas as vezes que necessitei de qualquer tipo de colaboração, e para o objetivo que fosse, a primeira a chegar era sempre Marcileide. Via Messenger, logo ela enviava uma mensagem: “Não se preocupe, Rangel. Pode contar comigo!”. Ela sempre fazia assim, ela fez muito assim. Quando precisei de Hidrobrilho para colocar sobre os murais do Memorial, quem se prontificou? Quando precisei fazer reparos em alguns móveis antigos, quem primeiro veio em ajuda? Quando precisei de muito mais, foi também Marcileide que estendeu sua mão.

Não faz muito tempo, e logo após um desfile cívico que se tornou histórico nos anais de Poço Redondo, um belo dia eu estava no Memorial Alcino Alves Costa quando Marcileide, acompanhada da Professora Dineide, adentrou os portões acompanhada de uma turma de crianças, alunos de seu centro educacional. Mais uma visita, foi o que logo pensei. Ao dar alguns passos para recebê-los, percebi que as crianças carregavam nas mãos os mesmos banners com atrativos histórico-turísticos utilizados no desfile. E ali estavam para doar ao Memorial. E desde então os banners doados por Marcileide estão expostos numa das salas principais do Memorial.

Não havia um só evento organizado pelo seu centro educacional que Marcileide não me fizesse um convite pessoal. Bem recentemente, eis que ela mais uma vez me surpreende via mensagem. Desta feita para dizer que havia adquirido uma casa vizinha a de Raí, em Curralinho, e que quando eu quisesse ela colocaria as chaves em minhas mãos. Como não se encantar com uma pessoa assim, de atitudes tão dignas e tão bondosas? Como não chorar agora pela sua partida assim tão desacertada com o tempo. Marcileide ainda era jovem, muito jovem...

E cerca de quinze dias atrás eu fui até sua residência na Praça Frei Damião. Pediu-me para passar por lá para fazer sua doação ao Projeto Rua Colorida. Levei alguns livros para a biblioteca de sua escola, e ficamos conversando. Acertamos que brevemente eu iria dar algumas palestras para os seus alunos. Despedi-me e voltei.

Despedi-me e agora ela partiu! E tudo parece ontem, tudo parece agora. E assim se eternizará na minha memória. Abraço-te ainda, amiga Marcileide. Fostes chamada. Vá. Leve a flor da bela fotografia. Deus dirá que é tua!

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com