A CULTURA DA DISSIPAÇÃO
Sempre me retraí quando qualquer pessoa, próxima ou distante - hoje, ontem, sempre - tentou me convencer a gastar muito, a dar largos passos, a alçar altos vôos com os meus recursos - que não são muitos, mas que quebram o meu galho. O brasileiro, bem diferentemente do europeu, quer sempre um automóvel novo e flamante, um imóvel superior ao que se ajustaria a seu tamanho, viagens ousadas em vários sentidos, os mais badalados restaurantes e boates, roupas caras de grife, enfim, os mais refinados prazeres da mundanidade. Nem falo do modismo dos eletrônicos. A filosofia do “depois, dá-se um jeito” tem raízes profundas na alma nacional colonizada. Tanto que, num país de juros estratosféricos e impostos absurdos, é excessivo o número de gente que se socorre de empréstimos bancários ou por cartões de crédito, que rolam feito bola de neve, acabando impagos e em juízo. Claro, há momentos difíceis na vida, tudo bem, mas habitualidade em gastos excessivos é vício ou exibicionismo tupiniquim. Creio que meus derradeiros débitos bancários, pequenos, foram em 1976, odeio pagar juros e sou um ardoroso militante da poupança. Primeiro poupar, depois gastar. Sim, não é fácil, mas também não é um bicho de sete cabeças apontado pelos que adoram consumir “à outrance” e jamais fazem sacrifícios. Querem seguir a onda do capitalismo desalmado. Naturalmente que jamais haverá poupança que se preze quando o sujeito decide abraçar o mundo e dissipa seu dinheiro, seja pouco, seja muito, não é caso de comparar valores. Já vi muita gente que ganhava bem, em litígio com pequenos credores, descumprindo pensões alimentícias ou em débitos condominiais detestáveis. Também existe aquele que não é abonado, sabe amealhar recursos e está sempre prevenido, dormindo sono tranquilo. Se você é um inadimplente contumaz e feliz, tenho pouco a declarar, tirante a desaprovação, mas se você quer ter vida organizada, com alguma disciplina, capaz de assegurar certo futuro sereno, economize, não torre, não se meta de pato a ganso. Os que aplaudem nem irão a seu velório. As pessoas esquecem facilmente o que leram sobre a crise americana de 1929, a Segunda Guerra Mundial ou a recente crise das chamadas “subprimes”, de 2008, nos Estados Unidos da América, sobretudo. A sociedade conspira contra estes conselhos de temperança e sobriedade, mas ninguém é obrigado a surfar a onda do consumismo gravoso. Pegar um “jacaré” fica às vezes de bom tamanho lá em Xangri-lá. E, se for mesmo o caso, ainda que não conheça, até em Pinhal, “a mais próxima da capital”. Talvez o sangue português direto ou italiano de terceira geração me influencie, mas não é fator decisivo e nem sei se muito importante.