CAMPO DE BATALHA NO SERTÃO DE CANUDOS
Belo Monte, 1896, a 1897. Um papoco estremeceu a terra, balançou a serra, sacudiu os corpos e avermelhou o chão que antes era forrado por pedregulhos que deixavam nos pés, as marcas das jornadas impetradas mata a dentro, com passos incertos, na certeza de um chegar feliz.
Gritos Horríveis se fizeram ouvir e uma nuvem mortífera de fumaça cortinava um pedaço desse sertão, perseguidos por Homens feras ao comando de uma besta fera que dava ordens de ataque e autorizava o extermínio de quem não sabia se render, mas aceitava a morte como forma triunfal de uma labuta amparada na crença bendita.
“Não poderá escapar ninguém” crianças, jovens meninos e velhos eram estilhaçados pelo impacto dos tiros certeiros e os corpos antes de sentir a ultima tremura, tombavam sem vidas separando-se dos sertões, dos pais, das mães, dos amigos, dos irmãos e da sua terra prometida.
A matadeira, estava ali cuspindo fogo quente com um só objetivo: MATAR, os renegados da sorte, que agiam contra aos mandos e desmandos de um regime que os oprimia. Pelo menos eles, tiveram a honra e a dignidade de tombar por terra por um ideal. E hoje, qual o ideal dos atuais seres, que calados suportam o estalo da chibata a cutucar-lhes os ombros a cada dia, como se a servidão escravocrata estivesse a beira de um retorno contemporâneo? Gemidos que chegavam moer a alma, até os pedregulhos ouviram e as ervas daninhas choravam mudas ao contemplar os corpos que por ali se amontoavam em solo quente, dividindo espaço com minúsculos seres que viam outros sendo arrastados para confirmação da morte com um golpe cruel de covardia afiada por aquele que jamais esboçaria um gesto de defesa, ou uma reação de misericórdia, a GRAVATA VERMELHA, chega a todos sem distinção.
Não mais barrancos de cuscuz e nem tampouco rios de leite. O que se via agora lavando o chão onde todos pisavam, era um rio de sangue. Sangue de inocentes que só queriam liberdade e ter a paz para professar a sua fé, guiado por um místico homem de palavras mansas, de olhar doce (levado pela compaixão do sofrer de quem sabia o que era sofrer) e de caminhar seguro pregando aos corações de muitos, a fé que impulsiona os miseráveis, pobres desvalidos e excluídos do viver social de uma hipócrita e tão visível sociedade (Coisas que ainda se repetem nos dias de hoje, tentando enfraquecer o forte) que de longe assistiam calados e coniventes, sem saber o que de fato acontecia no campo cercado de favela.
Do alto, alguém descreveria mais tarde, pincelando um sentimento (Talvez sem sentido por este) em letras de lamentos, porém justificando e reconhecendo que: O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE
Um Homem que carregava sobre seu lombo, um manto azul, azul da cor do sonho, azul da cor do céu e azul da cor dos brilhos das estrelas que ornavam o forro que sustenta o universo em noites sertanejas.
Labutas tantas, miras certeiras, cortes em corpos, e o gosto do sangue a pulsar-lhes na boca, como se fosse um elixir de condenação enfiado GUÉLA abaixo daqueles que nem acreditavam que poderiam ser massacrados da forma que o fizeram.
E os sobreviventes, e as marcas dos herdeiros dessas dores tantas sentidas em suas memorias pela falta daqueles que tanto fazem faltam no construir dessa historia, como ficaram?.
O que alarga o meu peito além da dor, é a certeza que estes que tombaram por terra os que foram perseguidos e massacrados (se é que houve) os verdadeiros heróis dessa guerra que o mundo jamais apagará da sua memória.
A estes, meu grito corroborando com o que acima já fora assinalado, no que concordo com toda convicção: “O SERTANEJO, É ANTES DE TUDO UM FORTE”
Carlos Silva