DECLARAÇÕES DE AMOR

Tenho observado e lido, ao longo do tempo e em diversos meios, calorosas e enfeitadas declarações de amor entre marido e esposa, namorados, pais e filhos, parentes, amigos, em diferentes ocasiões comemorativas. Acho bacana, são belas palavras e atitudes. Vale muito. O que me leva a escrever, comparativamente, é que jamais tive com meus pais, nem eles comigo, comportamento físico ou retórico de tal natureza - táctil, eloquente, derramado. É claro que está fora de consideração a primeira infância – período áureo em que praticamente todos recebem muito, mas a gente nem lembra depois. Em nossa família, no meu ramo, talvez o discurso afetivo habitual não seja tão exuberante, mas os sentimentos o são. As mulheres sempre se revelam mais afetuosas, é uma característica predominantemente feminina. Somos bastante apegados, muito próximos, íntimos, mas o emprego do verbo caloroso é relativamente econômico. Os gestos são mais significativos do que as palavras e para mim está ótimo. Afinal, genuínas emoções não cabem na estreiteza do universo vocabular. Salvo, eventualmente, para filhos e netos, rarissimamente declarei o célebre “Eu te amo”. De tão batida, tenho imensa dificuldade de pronunciar a frase clichê. Não só raramente disse como também não me disseram, ao menos com frequência. Nada a reclamar. Respeito legítimas expressões, mas palavrório afetivo com muitas efusões não é a minha praia. Tive um amigo que dizia eu te amo para a Musa da vez como quem dá bom-dia ou boa-tarde no escritório. Algumas acreditavam. Posso até ser um “sem amor”, retoricamente falando (e num tom exagerado), mas a gente deve ser mais contido no vernáculo. Até para criticar. Sim, eu escrevo bastante e me espraio, mas procuro evitar facilidades ou armadilhas sentimentais, que as mais encantadoras palavras disfarçam e até eventualmente esvaziam. Eu sei, a maioria age e pensa diferente, tudo bem, mas, como dizia o personagem (Rochinha) do Jô Soares “É o meu jeitinho”.