SOUR GRAPES

Com alguma freqüência, é irrelevante se a pessoa tem dinheiro ou é pobre, se tem grande cultura e formação ou apenas o que a vida ensinou. Também seguidamente não importa se o indivíduo ocupa cargo de relevo, é chefe, autoridade ou desempenha atividade comum, de menor remuneração e reconhecimento social. Observamos impressionantes contrastes de postura, sentimentos e comportamento em diferentes quadros comparativos. Como explicar? Índole, exemplo familiar, amizades, o “habitat” natural da pessoa, sensibilidade? Honestamente, não sei. Tenho, inclusive, dúvidas sobre o pensamento do grande Jean-Jacques Rousseau de que o homem é bom, a sociedade o perverte. Vale, mas nem sempre ou, conforme o adágio latino “est modus in rebus” (Horácio). Poderia ter citado, neste passo, frase célebre de minha falecida irmã Ana Maria, que, ao receber severas críticas do pai, retrucava: “É, mas não é tanto assim”. A pessoa cheia de títulos e graduações, abonada, de destaque, pode não passar de idiota ou um cretino a mais neste complicado mundo, enquanto simples trabalhador braçal pode ser exemplo de solidariedade, compreensão, disciplina, respeito e dedicação. Todo mundo sabe disto e conhece pilhas de casos. E então? O cretino só conseguiu espaço e sucesso pela negligência de muitos, que pouca atenção dedicaram ao humilde. O encantador de serpente junta público. Você gosta de uma pintura numa feirinha de artesanato de bairro e chora para pagar cinqüenta pilas, mas é capaz de fazer dívida para adquirir um quadro qualquer de maluco elogiado por alguém importante da mídia. Aliás, não deixem de assistir ao documentário SOUR GRAPES (Netflix) para bem avaliar o comportamento de gente abonada e conhecedora, disputando em leilões milionários vinho falsificado de um fantástico indonésio especialista. Enfim, é a nossa civilização. Não vai mudar. Iconoclasta, questiono santos, ídolos, moda, valores e padrões impostos, desde a bíblia à bula de remédio, mas não me estresso.