Palavra Solta – qualquer palavra

Palavra Solta – qualquer palavra

*Rangel Alves da Costa

O pau torto da palavra é madeira de lei na sabedoria. O sábio não precisa escrever com letras douradas ou expressar seu conhecimento entre os ramos dourados da latinidade gramatical. Como dito, chega de floreios e adornos, chega de redondilhas ou alinhavamentos para dizer o simples, o inteligível, o que realmente possa ser entendido. Besteira besta usar anela e gravata na boca. Besteira besta pensar que o sentido da palavra vem acompanhado da formação. A boca até entorta na palavra escolhida, forjada, forçada no egoísmo verbal. Ao invés de um leve sopro, de uma brisa, de um aroma singelo, muita boca prefere se abrir em tempestade. Será que é para assustar ou para amedrontar o ouvinte? Pra que dizer “Você Excelência é um digníssimo canalha!” ou “Vossa Senhoria possui a sabença suficiente que não passa de um verme asqueroso”. Melhor dizer: “Um fi da gota é o que você é!”. Ou apenas: “Seu fi da égua imprestave!”. Tá entendido? Na verdade, a palavra clama por entendimento, e não por incompreensão. Ou pede apenas que seja ela mesma, e não um significado mirabolante. E o que é mesmo a palavra senão o encontro do dito com o significado? Por que ósculo se beijo ecoa muito mais bonito? Por que arma perfurocortante se faca peixeira faz a mesma sangria? Por isso que prefiro outra palavra.

Escritor

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