GRANDES FORTUNAS
Faz algum tempo, li um interessante livro sobre a saga da família Guinle, desde a França, Rio Grande do Sul, até o Rio de Janeiro. Na verdade, meu “ídolo” (apenas uma referência carregada de curiosidade) é Jorginho Guinle, que nunca trabalhou, morreu relativamente pobre e foi o maior playboy do Brasil. Um símbolo nacional de desfrute máximo de mundanidades. Não adianta amargamente criticar: foi assim mesmo e nos brinda, afinal, com impagável exotismo. Sim, aquele mesmo que, numa entrevista, disse algo nesta toada “preparei-me para viver até os 80 anos, mas estou com 87 e me fudi”. Morreu aos 88. Jorginho, certa feita, foi, a pedido do pai, nomeado pelo irmão mais moço para o Conselho de uma Seguradora da família. Na primeira reunião de que participou, não conseguiu a menor concentração e votou contra uma relevante proposta do próprio irmão: foi imediatamente afastado. Afinal, ovelha não é pra mato. Jorginho estudou em Paris, mas se mudou para os Estados Unidos sob os auspícios familiares. Tornou-se amigo dos Kennedy, Rockfeller, outros tantos milionários e frequentava o meio artístico, com destaque à amizade com a deusa Marilyn Monroe, então praticando o alpinismo básico da carreira. Carlos, seu pai, enviava-lhe o equivalente a 45.000 dólares por mês, a título de mesada. Bem, seus avós foram desbravadores e seus vários tios, como o brilhante e visionário Eduardo, e, notadamente, Guilherme - o mais próspero e dedicado - construíram impressionante fortuna, nos mais variados campos, especialmente a Cia. Doca de Santos, a Companhia Brasileira de Energia Elétrica, inúmeros e valiosos imóveis no Rio de Janeiro e o então poderoso Banco Itamarati, cujo prédio tinha a mão do jovem Oscar Niemeyer. Num cálculo simples, o autor da obra estima que os 20% a que a família fazia jus sobre a receita gerada pela administração do Porto de Santos, em 2013, equivaleria a algo como 27 bilhões de dólares ao ano. É dinheiro demais. Mas foi “tio Octávio” que imortalizou o nome da família, com a arrojada construção, numa praia quase desértica e afastada, do Hotel COPACABANA PALACE, que, com a promessa da legalização do jogo, tornou-se um marco para o turismo elegante no Rio de Janeiro. Méritos também a Jorginho, especialmente a partir de 1954, pois ajudou a atrair o “jet set” internacional para aquele centro de lazer, beleza e comodidade. Não deixa de ser “trabalho” - absolutamente invejável. Por mais que se possa criticar essa burguesia - apoiada por Getúlio Vargas, amigo muito ligado aos Guinle – é preciso reconhecer as obras sociais que realizaram como estradas, colégios e hospitais, além do financiamento a músicos e artistas diversos, sem qualquer incentivo fiscal ou contrapartida. Isto também é, ou foi, Brasil, dinheiro não é só desperdício. O relativamente recente filme sobre a vida dele é um barato, imperdível no Net Now, mas nada de extraordinário.