O eterno aprendiz
Por questões pessoais, tenho passado minhas últimas férias no estado da Bahia, especialmente no interior. No município que sempre me acolhe, até já me acostumei com o seu respectivo clima, sua gente, seus costumes, sua maneira de se expressar e sua culinária (ir à Bahia e não saborear o famoso acarajé é o mesmo que não estar em território baiano).
Por incrível que pareça, até comuniquei-me facilmente com intelectuais e educadores locais em função das áreas nas quais eu atuo. Pensei que fosse encontrar vários obstáculos em relação a isso pelo fato de minha estada quase sempre ser rápida e eu mesmo ser uma pessoa bastante reservada. Meu lazer, na maioria das vezes, resume-se a saídas breves de puro entretenimento, a um clube, a um bom restaurante, acompanhado da minha digníssima, ler bons livros, escrever, tocar a minha música, autoral ou não, ver documentários nos canais do "Youtuber", ir a recitais, a espetáculos musicais, teatrais ou ao cinema. Aí é que está o X da questão: no interior baiano, dessas atividades que citei, restam menos da metade, e as minhas férias acabam limitando-se aos livros, tratamentos de saúde, muita comilança e pouca atividade física. O resultado, leitor, eu nem preciso dizer: 71 kg na balança da farmácia mais próxima, problemas gástricos e ansiedade generalizada para emagrecer.
Preciso de uma reeducação alimentar. Mas não é tão fácil assim! Em férias, há tentações que nos deixam à flor da pele, e acabamos por experimentar alimentos cada vez mais sofisticados que nunca fizeram parte da nossa realidade. A gula me vencendo de novo!... E olha que antigamente não era assim. Talvez porque em tempos idos eu não tivesse o padrão de vida de que disponho hoje. Nem por isso fiquei rico. Apenas esforcei-me mais, trabalhei mais, estudei mais e ganhei mais. Pena que a meritocracia do sistema capitalista, às vezes, é que produz efeitos plausíveis! O fato é que desejo, o quanto antes, libertar-me de crenças que me prejudicam! E não me refiro só à alimentação.
Um dia desses, no interior da Bahia, durante o descanso dos justos, ao lado da minha digníssima, estava lhe ajudando na limpeza do apartamento que ela alugou para a sua estada provisória, quando, distraído, ia recolando um móvel no lugar errado e em posição inadequada.
— Meu amor, não é desse jeito! Presta atenção! — foi a advertência que levei num tom categórico e quase incisivo. Por um triz, o móvel não teve sua estrutura comprometida. Se essa tivesse sido a primeira e última vez, outras circunstâncias parecidas não teriam se apresentado. No entanto…
Geralmente, ao cometer algum erro por inexperiência, é porque ainda estou na fase de aprendizado em relação às tarefas domésticas. Quem já casou sabe que é assim. E nos dias atuais, que a divisão de tarefas é obrigatória, o homem é quem sofre mais pela sua parcial inaptidão para esses assuntos. Não é culpa minha, mas da nossa cultura que é machista. Felizmente, os tempos estão mudando.
A questão é que o erro, outras vezes, é por pura "dispersão". Esta maldita palavra que me persegue até hoje! Não escondo as minhas dificuldades, infelizmente avigoradas também por esses tempos corridos, que exigem de nós mais e mais eficiência e perfeição. É possível que aí esteja o esclarecimento para a falta de noção e de limites de muita gente. Ora, se sou um alguém em constante mudança, é porque não domino tudo e não conheço tudo ao meu redor. Se sou imperfeito, é porque jamais poderei realizar algo que seja a perfeição total. Se preciso efetuar eficientemente os deveres de casa e do trabalho, conforme o solicitado, tenho que seguir uma organização, isto é, etapas; uma após a outra numa sequência lógica. As melhores empresas são verdadeiros ambientes organizacionais e, dessa maneira, gerenciam seus funcionários, produtos, sistemas operacionais que levam a boas negociações de compra e venda, à triagem de serviços, ao treinamento dos profissionais que vão se empenhar num forte atendimento etc. Não vejo diferença alguma na comparação desse exemplo com a vida pessoal.
A particularidade de todo esse debate está no ritmo que cada um emprega naquilo que faz. Querer que eu ou qualquer outro ser humano tenhamos um mesmo ritmo de aprendizado e execução é falta de noção e, no mínimo, de sensibilidade. “A pressa é a inimiga da perfeição”, um ditado que ouço bastante desde a tenra infância. Só esqueceram de me dizer que a perfeição de cada um é o limite de cada um. Ou seja: se você empregou inúmeros esforços para emagrecer com atividades físicas regulares e perdeu apenas metade do peso que tinha, foi o máximo que pôde fazer por você mesmo. Se estudou bastante para passar num concurso público para hoje ser um servidor do povo, porém não obteve o primeiro lugar, o seu limite não permitiu. Certamente o seu ritmo não era o do seu oponente que conseguiu tal posição. Se tentou o quanto pôde para conquistar a moça que gostaria de namorar, e o relacionamento teve curta duração, foi também o máximo que você empenhou para que seus objetivos se concretizassem. Se destinou parte do seu tempo para o planejamento mensal, e os resultados não foram tão eficazes, você atingiu o limite da perfeição, seguindo o que era certo. Eu poderia citar outros exemplos aqui.
Entretanto, acredito, leitor, que você já deve ter percebido que o limite também precisa da paciência como sua companheira de todos os dias. Por quê? Simples: se o ritmo de um indivíduo não corresponde ao do outro na realização de algum dever, cabe a terceiros compreenderem tal princípio. É nosso costume não pararmos para pensar nisso e irmos devagar no aprendizado, como também no aperfeiçoamento deste. A possibilidade de melhora nunca nos abandona. Ver, rever o que praticou. Aprender, reaprender. Esses conceitos, pelo visto, não integram a nossa educação familiar e escolar desde a raiz dela. Passamos por cima disso porque o mundo veloz quer que sejamos velozes. E novamente temos a discussão do significado de ritmo.
Indo mais fundo, com certeza chegarei a outros apontamentos relacionados ao tema deste texto, um deles, o respeito às diferenças. Sim, porque se o aprendizado é algo eterno, ao contrário do que a nossa cultura familiar e escolar nos ensina, cada ser humano possui o seu ritmo, e este requer a paciência e a sabedoria de terceiros, provavelmente todos nós precisaremos incluir nesse raciocínio uma dose de consideração uns pelos outros. E isso é bom, desde que também compreendamos que não se tendo o controle de tudo o que se demanda que seja laborado, consigamos ser bons indivíduos e bons profissionais nos auxiliando mutuamente sempre que for indispensável. Eis a cura para todos os males.