Palavra Solta - os cigarros de Clarice Lispector e de Florbela Espanca
Palavra Solta - os cigarros de Clarice Lispector e de Florbela Espanca
*Rangel Alves da Costa
As fotografias não mentem: a romancista Clarice Lispector e a poetisa Florbela Espanca fumavam. Florbela, poeta lusitana, tem até um famoso poema que leva o nome Fumo: “[...] Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, ó meu amor pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos...”. Muitas fotografias de Clarice mostram a romancista com o cigarro aceso e estendido entre os dedos, com olhar profundo e feição melancólica. Reconhecidamente, a romancista possuía uma escrita profundamente amarga, dissecando a existência humana em seus textos. E com o cigarro sempre aceso e sempre à mão, como a dizer que eu sou essa aqui, pensativa, apenas vendo a vida como esse cigarro que vai se consumido e essa fumaça que se esvai. Não diferente ocorre com Florbela, mas geralmente com piteira. Aliás, esta estava muito acima de seu tempo e fazia do seu cigarro como um retrato de feminilidade sem temer os preconceitos então vigentes.
Escritor
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