BAIXA TOLERÂNCIA

Sempre fui, em termos, naturalmente tolerante, diplomático, polido e compreensivo. Continuo a ser, mas o grau possivelmente baixou. Acostumei-me a lutar pela delimitação de espaços. Uma longa vida ensina. Lidei tranquilamente com pessoas voluntariosas, obsessivas, fanáticas, agressivas e fora da casinha. Numa boa. Fui contundente em casos necessários, mas tinha o dom de saber contornar situações difíceis. Dava invariavelmente o meu recado, mas procurava não quebrar os pratos. É importante agir assim em sociedade, especialmente quando se constrói o amanhã. Ser tolerante e compreensivo é de vital importância para o bom convívio familiar e comunitário. Sem isto, é a lei da selva. Somos animais racionais e a razão prepondera na edificação do futuro. Parece óbvio. Mas, a partir de certo momento existencial, a tolerância definha, a “finesse” desanda e a disposição guerreira aumenta. Mandar à merda, dispor-se ao confronto, é uma beleza, mas – eu sei - não é coisa de maturidade, por vários motivos. Eu me esforço para melhorar e superar a fase, mas, cá pra nós, a vida anda complicada, com muito desrespeito, abuso, prepotência, egoísmo, negligência e a deletéria burrice, de cima a baixo. Se estivesse em carreira diplomática, brigaria com meio mundo, quem sabe até com o Papa argentino lá no monumental Vaticano, torcedor do San Lorenço de Almagro. Não sou “Tolerância Zero”, longe disto, mas cada vez compreendo mais o tipo. Gente demais no planeta. Como dizia o amigo parisiense Gérard Bony, quando visitou o Brasil, em 1972, referindo-se a determinado evento: “lá tem muito mundo”. Realmente, tem “muito mundo”, alguns sem qualquer merecimento.