Só existe o que é mostrado
Em uma tomada de filmagem a noite, do alto, a cidade pode ser passada apenas como um amontoado de prédios, avenidas e luzes, e nada mais. E dependendo dos cortes, da trilha sonora escolhida e da habilidade de quem editar o vídeo, um amontoado de prédios, avenidas e luzes, belíssimo para quem assisti de casa. Quem é que dirá, por exemplo, que bem ali em baixo, no coração da grande São Paulo, por detrás daquelas belas imagens postas no ar por determinada emissora de Tv, estão abandonados à própria sorte, de forma extremamente decadente, milhares de seres humanos viciados em Pedra de Crack? As imagens panorâmicas dos cartões postais da cidade filmados de cima, sem zoom, deixam propositalmente de lado esse tipo de detalhe cruel. E como só existe aquilo que é mostrado, se eu não vejo, logo toda decadência, toda miséria, toda podridão, não existem.
Corta para a catedral da sé, corta para o Teatro municipal, para a Pinacoteca, para a Estação da luz, Marginal Pinheiros, Marginal Tiete ... Que luzes, quanta magia, que cidade linda!