SANATÓRIO GERAL - ADOLESCÊNCIA EM XEQUE

Um dos grandes problemas da crise econômica, como aquela que estamos vivendo, afeta duramente os mais jovens. Não vou falar aqui dos debatidos temas referentes a emprego ou ensino. Problema para a juventude e naturalmente para os pais ou responsáveis, assim como saúde, boa alimentação, vestuário e residência. Quero só ater-me à questão elementar do lazer para adolescentes. Sou de um tempo em que tudo era mais tranqüilo, acessível e democrático, em clima de boa segurança. E éramos país de terceiro mundo, com bem menos progresso do que hoje. O complicador foi justamente o progresso acelerado, especialmente, para as classes menos favorecidas. Nunca tive muito dinheiro no bolso, quando piá, e me diverti muitíssimo, assim como praticamente todos da minha geração. Frequentava os mais diversos ambientes e tinha amigos de todas as camadas sociais e econômicas. Não me lembro de áreas “proibidas”, talvez de zonas mais agitadas em que poderia haver algum risco. Aliás, em 1984, passei dez dias em Nova York e, no hotel, instruíam a gente para ter muito cuidado na Broadway depois das 20 horas, sem falar nos bairros. Não dei muita bola. Bem, nos últimos anos, as dificuldades econômicas aguçaram a violência nas maiores concentrações jovens das grandes cidades. Para a segurança dos filhos, os pais fazem chover dinheiro para que eles se divirtam em lugares e festas mais caras, evitando aglomerações livres e abertas, ditas “populares”. As gurias preferem naturalmente os bons espaços e os guris correm atrás, com ou sem dinheiro no bolso. É uma roda-viva de despesas e sacrifícios que estrangula a classe média, notadamente as fatias menos abonadas, não raro gerando mais revolta e violência. E, com as provocações da televisão e da internet, os adolescentes querem abraçar o mundo e curtir todas. Parte da criminalidade resulta do “sanatório geral”. Ou os pais educam firme e restringem ou vão à insolvência. Ou o adolescente trabalha e ganha bem ou vai ter de roer o osso. Não existe solução mágica. Em épocas árduas, a sociedade de consumo, encolhida, precisa urgentemente de novas tendências e valores. Vai passar.