OS SERTÕES SÃO SANTOS, SANTOS!

OS SERTÕES SÃO SANTOS, SANTOS!

*Rangel Alves da Costa

O povo sertanejo santifica os seus próprios santos. O céu nordestino está em Juazeiro e seus mantos. Padim Ciço e Frei Damião salvam almas e enxugam prantos. A fé e a devoção espalham nas distâncias e além-recantos. Os rosários e terços afastam os males e os espantos. Nas igrejas humildes estão as bênçãos e acalantos. Na voz do povo os ecos sagrados de seus divinos cantos. E pelas estradas os pés descalços em procissões e seus pedidos tantos. Santos e anjos nos casebres com seus oratórios e benditos encantos. Por que os Sertões são Santos, Santos!

A religiosidade sertaneja vai além do que se tem como religião. É a crença ungida em devoção como o salmo ecoado no sermão. Sai das entranhas pela porta do coração e toma as veredas nuas de pés no chão. Na ladainha, no ofício de fé, no novenário e na procissão, um estandarte sagrado que não tem científica explicação. Nas mãos calejadas o rosário passado como se cada conta fosse um passo de salvação. Na face enrugada a marcas do sol em clarão e na silenciosa voz as palavras da oração. Candeeiros acesos, luz em vermelhidão, são as rezas da noite que domam a escuridão. Uma fé tão bela e cheia de encantos. Por que os Sertões são Santos, Santos!

A humildade do sertanejo o faz mais humano e cristão. Quanto maior a pobreza, quanto mais de pés no chão, mais se sente abnegado e com maior devoção. Mesmo os remediados, com farta caneca e pão, ainda assim se ajoelham em prece e oração, sempre agradecendo ao divino pela vida no sertão. Imagem de santo no quarto, na mesinha e até no chão, por todo lugar há imagem dos santos de adoração. O Santo Sagrado Pai, Senhora da Conceição, São José e São Francisco, e também São Sebastião. E nunca falta na casa Padim Ciço e Frei Damião. Para proteger de tudo, para afastar os quebrantos. Por que os Sertões são Santos, Santos!

Em tempo de seca grande, quando tudo é tristeza, o sertanejo se vale de sua maior nobreza, que é a sua incontida fé como devota beleza. A chuva tarda a chegar, mas não se faz em pequeneza, não desiste de seu mundo nem se toma de incerteza, pois sabe que lá em cima há um Deus como grandeza. Mesmo que falte o pão e o prato suma da mesa, mesmo que o nada ter seja a mesma sobremesa, ainda assim não se entrega à lágrima em correnteza. Faz prece e oração, põe no coração a leveza, entrega seu destino ao sagrado e logo espera a afoiteza, da chuvarada caindo e dos pingos em brabeza. Chuvas de salvação, respingando alegres cantos. Por que os Sertões são Santos, Santos!

Romeiro, beato, conselheiro e rezador. Um povo de tanto ofício, mas com um único louvor: ser no peito um cristão e ter como pai o Senhor. Bate a porta e anuncia que vem de longe em clamor, tá cansado e com sede e pede água de favor. Avista pelas paredes fitas, imagens e pendor, e tudo religioso que do Juazeiro chegou. Agradece o copo d’água, o tamborete e o favor, mas logo é abençoado antes de seguir seu andor. Na estrada encontra um povo em procissão, com cantar de tanto ardor, rezando pela bonança que do sertão se afastou, pois a chuva foi embora e por todo lugar é calor. Uma fé que afasta o mal, uma fé que destrói quebrantos. Por que os Sertões são Santos, Santos!

Almas em devoção, na crença seus acalantos, pois os Sertões são Santos, Santos! Religiosidade na alma, no espírito ecoando alegres cantos, pois os Sertões são Santos, Santos!

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com