ENVELHECER
Vencer as barreiras do tempo é bom, pois a vida é insuplantável. O velhinho de cem anos, tortinho e de bengala, só na base da canja e do mingau, não quer saber de arrumar as malas e partir para o desconhecido. Há sempre algum prazer por estas bandas. De certa distância, não penso assim, mas se estivesse na condição, acredito que teria comportamento similar. Só quando o sofrimento do corpo é grande para que a pessoa entregue gradualmente os pontos. Afinal, ninguém nasceu para carregar injusta e pesadíssima cruz. Na cultura cristã, só houve um, que revolucionou. Quando a gente é jovem, a velhice é algo muito distante e ninguém esquenta a cabeça; quando a pessoa já é veterana, acredita que tem muita estrada pela frente e continua a fazer grandes planos. Independentemente de abordagens filosóficas e atitudes individuais, a verdade é que, lentamente, a partir dos 40 anos, basicamente, você, fisicamente, começa a não ser mais o mesmo. Basta comparar fotografias. É coisa normal da vida, da qual ninguém escapa. É fundamental que todos se cuidem, previnam-se, caprichem, mas não se iludam: “a fadiga dos metais” é inexorável. Quanto ao espírito, é surpreendente nossa capacidade de evolução e de adaptação relativamente aos novos tempos. Claro, posso ser eclético, gostar de muitas coisas, tudo bem. Mas quem curte Noturnos de Chopin, músicas de realejo, Pavarotti, Beatles, Edith Piaf, cantos gauchescos como “Desgarrados”, Bossa Nova, poderá até achar interessante, mas terá dificuldades enormes para apreciar uma “rave” (em que nunca fui). A saúde geral melhorou por uma alimentação diversificada, controles e pelos incríveis avanços da medicina, talvez até as mulheres tenham ficado mais bonitas, com tantos recursos disponíveis, mas nem adianta esconder a idade, para quem acredita no truque antigo: a velhice mostra-se aqui e acolá, avisando que está na área (e se derrubar é pênalti). Existe muito mais gente velha, mas o mundo atual é voltado aos mais jovens. Mas não estou nem aí, com “fadiga dos metais” e tudo.