Palavra Solta - a estranha morte de Osmundo H.

Palavra Solta - a estranha morte de Osmundo H.

*Rangel Alves da Costa

Osmundo H. era um bom vivant, como se diz. Rico, solteiro, namorador, homem de viagens e de passeios. Um dia disse a si mesmo, e a quem o quisesse ouvir, que já tinha vivido tudo e vivido demais, e que agora só queria morrer. Então, colocou uma cadeira espreguiçadeira debaixo de um sombreado de laranjeira e ali ficou. Quando uma visita chegava, era ali que era recebida. Dormia ali, ali se alimentava, tudo fazia. Por mais que os amigos insistissem para que voltasse à normalidade da vida mais ele repetia que não, pois já era tempo de morrer e ali morreria. Passaram-se dois, três anos, e nada de a morte chegar. Mas ele se mostrava contente, confortado, sem qualquer alteração no ânimo e no humor. Já estava com oitenta anos quando olhou para o alto e avistou uma laranja graúda, amarelinha, já em tempo de cair. Então imaginou que se ela fosse maior e caísse sobre sua cabeça, certamente que a morte chegaria no mesmo instante. Então ordenou que sua cadeira fosse levada pra debaixo de um pé de uma jaqueira. E um dia, lá de riba, uma jaca mole despencou e caiu bem no seu peito. Mas nada de causar maiores danos. Preocupado com a morte que não havia chegado daquela vez, sentiu a fome maior do mundo. Então comeu a jaca inteira. E não deu outra: morreu.

Escritor

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