Isto não se faz, Honório!
É no mês de junho que se realizam as mais expressivas festividades do Nordeste brasileiro. Nessa segunda parte das estações climáticas, o sertanejo empolga-se com as festas de São João, São Pedro e Santo Antônio, importadas de Portugal.
Nossos ancestrais lusitanos nos fizeram herdeiros de suas tradições religiosas. Com eles vieram as danças folclóricas. A Quadrilha é uma das que chegaram acompanhadas do uso das roupas caipiras, floridas e esvoaçantes, e dos instrumentos musicais conhecidos de todos nós, tais como a sanfona, o cavaquinho, o triângulo e o reco-reco, que aprendemos a manejar com maestria em nossos folguedos folclóricos.
Os portugueses ainda trouxeram par cá as decorações coloridas que enfeitam nossos arraiais. Enquanto as bandeirolas e as fitas de papel tremulam ao vento, os balões povoam o firmamento nas noites escuras do mês de junho, apesar das restrições proibitivas, decorrentes do perigo de incêndio nos campos.
As festividades juninas são típicas do Nordeste brasileiro. O sertanejo as realiza em agradecimento aos santos João e Pedro, os quais, generosamente, rogam a Deus pelas chuvas benfazejas que proporcionam fartura de pamonha, canjica, milho verde cozido e angu, este, um prato tradicional nas refeições diárias do sertanejo.
A economia nordestina é favorecida com a realização dos festejos dessa época dadivosa, em que os parcos recursos financeiros da região multiplicam-se graça à gastança dos turistas vindos de todas as partes do Brasil. Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, destacam-se pela grandiosidade dos festejos que realizam. Ambas disputam o título de portadora do Maior São João do Mundo. Por ser paraibano, meu voto vai para a Rainha da Borborema, como Campina Grande é conhecida por suas festanças realizadas no Parque do Povo.
A região também se distingue por suas inúmeras atividades esportivas. Uma delas, a vaquejada. Em campo aberto, o cavaleiro, vestido de gibão (uniforme feito de couro), corre desabaladamente atrás do boi; alcançando-o, derruba-o espetacularmente, puxando-o pelo rabo. Trata-se de uma façanha que enaltece a habilidade do cavaleiro e de seu cavalo, animal adestrado para não “fazer feio”, como se diz na região nordestina.
Conheci um peão de nome Honório, em vaquejada realizada em São José de Piranhas, na Paraíba. Em todo o sertão do Nordeste, esse cowboy sertanejo ostenta o título de campeão dos torneios onde demonstra suas habilidades na derrubada do boi que segue à sua frente, perseguido pelo cavalo forte e veloz.
Honório é apelidado “pé de valsa”, por suas habilidades incontestáveis no âmbito dos festejos juninos. Não raro, os pares dançantes cedem o salão para vê-lo bailar, acompanhado de uma parceira de admirável qualidade.
Em certa ocasião, dançava ele com uma morena que o espreitara por algum tempo, rogando-lhe o obséquio de uma oportunidade. O rapaz entendeu o gesto da dama e aceitou o convite. Durante os passos sincronizados ao ritmo da dança, a moça conversava fitando-o no rosto suado e bronzeado do sol sob o qual se expusera na pista de vaquejada. Em certo momento, o rapaz perguntou à parceira:
– O que você tem na boca?
A moça respondeu de pronto:
– Uma ponte.
– Alguém deve estar... em baixo dela! – disse sem medir as palavras.
Faltou a Honório a postura do nordestino gentil, de bons sentimentos. Pelo que fez, recebeu a reprovação de seus conterrâneos.