O FUTURO A DEUS PERTENCE
Quando faço planejamento financeiro (o que já é hábito), penso sempre no grande Jorginho Guinle, talvez o mais badalado “play-boy” do Brasil, com atuação e fama internacionais, em seus áureos tempos. Jorginho, em fim de carreira, como NUNCA trabalhou, acabou pobre. Entrevistado, disse mais ou menos isto: “Eu me programei financeiramente para viver até os oitenta anos, estou com oitenta e seis e me fudi”. Faz alguns anos, oitenta era ainda considerada idade de pessoa muito veterana. Creio que tenho um esquema de suporte que jamais me deixará em situação de aprêmio, mas, do jeito que estão as coisas e em face das demandas crescentes da modernidade, é possível que, dentro de mais dez anos, ou seja, quando estiver por completar 83 anos – se lá tiver de chegar – será difícil manter o padrão e o contentamento, salvo por limitações decorrentes da idade. Nasci e me criei no Brasil, adoro o país, mas dez anos é pouco tempo para um salto de qualidade significativo. Já pensava assim há dez anos. Aliás, na maioria dos outros países, não vislumbro igualmente o surgimento de um ciclo de prosperidade e equilíbrio. Tomara que me engane, não tanto por mim, mas pelos filhos e netos. Os jovens em atividade podem sempre encontrar algum nicho, alternativas interessantes, até por desfrutarem de boa mobilidade, mas o resto pode ficar apenas no feijão com arroz, o que já é uma delícia. Não sou essencialmente pessimista, mas estou sempre atento aos riscos da autofagia econômica decorrente das políticas governamentais de países com poucas ou confusas perspectivas de desenvolvimento. O mundo mudou. Costumo, simbolicamente, dizer que passamos da era analógica para a digital e isto acarreta grandes reflexos. Ninguém se preocupa muito com a transição, pois são necessários resultados imediatos ou em curto prazo. E as pessoas que se virem. O amanhã já está nos atropelando e muita gente ainda tem a cabeça no século XX. Enfim, tudo haverá de resolver-se, como sempre, de um modo ou de outro. Mas não me esqueço da lição dos milionários Guinle. Não há mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe. “Quédate de ojo!”