O NEVOEIRO
Conta-se que há muitos anos atrás, um grande nevoeiro tomou conta da cidade.
Entretanto, o nevoeiro não veio abruptamente, mas aos poucos…
Conta-se que as pessoas nem estranharam.
Uma neblina pequena se formou em pontos isolados, o que não chamou a atenção de ninguém.
Depois, outros pontos passaram a apresentar também uma fina e frágil neblina…
O calor sempre foi uma grande reclamação e, para muitas pessoas, estava bom, o calor havia diminuído. Isso era bom! Afirmavam muitos!
Depois, pontos e mais pontos da cidade foram sendo tomados pela mesma neblina. Até que a cidade inteira foi envolvida.
Os carros, desde cedo, já saíam de suas casas com os faróis acesos. As pessoas saíam com casacos e se encolhiam. As luzes das ruas ficavam acesas por muito mais tempo.
E assim foi que, quando o nevoeiro chegou, denso, forte, espesso, ninguém reclamou, ninguém se surpreendeu… Todos estavam já acostumados com seus casacos e gorros e luzes e frio.
O nevoeiro assumiu o cenário da cidade e, como se a própria cidade fosse, como um prédio, uma ponte ou uma rua, era já algo comum, banal, corriqueiro…
Um dia, o nevoeiro tornou-se ainda mais denso… Voos cancelados. Viagens adiadas.
O nevoeiro impedia a visão das pessoas. Elas?
Elas continuaram seus afazeres, mesmo que se machucassem ou esbarrassem em alguém.
Simplesmente viviam, indiferentes às coisas…