AMOR AO SABER
Não posso me queixar do que a vida me proporcionou e que pude devolver à sociedade como advogado, nas múltiplas funções exercidas por formação e experiência ao longo de décadas. Posso estar equivocado, mas acredito que teria chegado ao mesmo patamar se tivesse cursado letras, filosofia ou jornalismo, pois eu tinha dúvidas sobre o melhor caminho a percorrer. Na filosofia, penso na especialização em crítica de arte, por exemplo. É bom lembrar o que significa filosofia: amor e respeito ao SABER. De modo que, alto lá, é preciso levar em conta a posição de cada macaco no seu galho. Talvez pudesse ter cursado medicina, mas seria um desastre, um dentista pior ainda, um biólogo apagado, um marceneiro suicida ou perigosíssimo eletricista. Como militar, talvez me expulsassem precocemente por insubordinação. E assim grande parte das pessoas, ninguém é completo e todo aquele que encontra logo sua vocação, seja ela qual for, tende a ser mais feliz e socialmente produtivo. Um técnico em informática incompetente e desinteressado pode fazer todos os cursos, mas não será necessariamente mais eficiente do que um autodidata que resolve rapidamente problemas. No meu apartamento de solteiro, aparecia um sinal de vazamento inexplicável, a meu ver. Várias pessoas tentaram diagnosticar, inclusive um professor de engenharia. Nada. Chamei, por acaso, um senhor de mais idade, empreiteiro pequeno de obras, que deu uma ligeira olhada, fez algumas perguntas e me asseverou: já sei, vou resolver. Em poucas horas e com baixo custo o malefício sumiu definitivamente. Tenha você curso técnico, seja um autodidata empenhado ou profissional de qualquer dos cursos hoje existentes em nossas universidades, mercado existe e sempre existirá, ainda que difícil e competitivo. Mas acessível aos que trabalham, conhecem e têm disposição. Só não dá para cursar por cursar ou fazer pose com o canudo. Independentemente de políticas educacionais.