Palavra Solta – na semiescuridão

Palavra Solta – na semiescuridão

*Rangel Alves da Costa

Já não sei se quero ilhas ou quero multidões. Também não sei se quero distâncias ou proximidades, convívio ou desolação. Talvez bastasse estar em paz em qualquer lugar. Mas em qual lugar? Prefiro os silêncios às vozes, aos barulhos, aos murmúrios. Porém sei que é impossível calar o mundo. Sempre haverá um grito por todo lugar. À noite, quando mais desejo a calma silenciosa, eis que os gatos ecoam seus gemidos de dor e prazer. Tomo um café forte, quente, sem açúcar, pelo simples prazer da bebida. Não apenas um, mas muitos cafés desde o acordar ainda antes do cantar do galo. Depois acendo um cigarro e fico meditando sobre as dores do mundo. Nietzsche tinha razão. Schopenhauer também. Tudo é ilusão. Não há, no viver, nada além de uma tábua de faquir e de um braseiro lanhando de fogo a pele. Daí que não há profeta ou filósofo que não chore à beira do rio. Mas refletir muito atormenta a alma já transtornada até mesmo pelas simplicidades. Nada mais parece causar prazer, contentamento, a paz merecida. Em tudo, apenas o medo, a agonia, a angústia, a ficção. Um mundo acorrentado e sem saída. Gosto quando chove na madrugada por que o seu som toma a voz de todos os outros sons. Mas também pela sua feição melancólica a cada pingo. Certamente que são lágrimas desprendidas de qualquer face oculta. Que pode ser a minha ou de qualquer um.

Escritor

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