TEMPOS DIFÍCEIS

Crítica ideológica e programática é natural e saudável à democracia. Ninguém, em sã consciência, poderá esperar que uma linha política e partidária eleitoralmente vencida não ataque, não confronte, não explore os equívocos do adversário, com toda a contundência. Sempre foi assim, aqui e alhures. Quando Lula e Dilma venceram as eleições presidenciais, jamais cessou o combate de seus adversários mais ferrenhos. Agora que Jair Bolsonaro sagrou-se Presidente da República, o barulho é grande e não irá terminar, até pelo avanço tecnológico da internet. Pessoalmente, não gostava de muita coisa de antes e me desagradam certas medidas de hoje. Mas eu já sabia, como vários, que assim seria. Não quero alimentar infrutíferas discussões políticas, mas apenas frisar que há pessoas um tanto ingênuas, que se espantam com tal ou qual escolha de Ministro, de determinados projetos, discursos e providências que, na verdade, têm tudo a ver com o que os eleitos de ontem ou de hoje representam, sentem e almejam. Para o bem ou para o mal do país, dependendo da opinião. Não quero falar em comportamento ético, pois é tema para outra esfera de Poder julgar e o debate, aí, não acaba. Cogito apenas de atitudes e medidas administrativas e tudo praticamente se encaixa na formação de cada eleito, ao menos na essência. Lula surpreendeu muitos brasileiros que ameaçavam abandonar o país se ele fosse eleito: trouxe o Meirelles e cooptou expressivo número parlamentar. Bolsonaro buscou um economista de renome para o Ministério e prestigia militares, evangélicos, católicos e defensores dos conceitos tradicionais de família. Procura seguir trilha contrária de seus antecessores. Quid novis? Buscam, enfim, moldar o país, por caminhos diferentes, segundo as próprias crenças e valores, por mais equivocados que estejam aqui e acolá. Não esperem que o pato ponha ovo ou que o touro forneça leite. Tudo se resume e está contido na origem, quer dizer na escolha, na eleição. Os assessores, não raro, ajudam a complicar. Muita gente satisfeita, muitos revoltados, outros confusos. De minha parte, sou apenas torcedor brasileiro e eventual crítico de atos absurdos, mas tinha a convicção de que seria basicamente assim e pouco me surpreendo. Por isto mesmo, não votei nem em A, em B ou em C (e nem em H). Com o máximo respeito às diferenças de ponto de vista. Nada em desfavor desta ou daquela vertente doutrinária, estou tratando somente de coisa que me parece óbvia, mas que para muita gente não é. Em suma, enalteço a relevância do voto absolutamente consciente, inclusive do sagrado direito de não sufragar. Afinal, ninguém é dono da verdade. Existem problemas ditados pelo mundo moderno, em todos os países, com pouca gente satisfeita. Tempos difíceis.