(Imagens do Google)
Tem "portância" não...
Quando estou em Abaeté, cidade do Centro Oeste Mineiro, essa expressão é corriqueira entre nós. Tais palavras vêm à tona, ao proferirmos que não há importância em determinadas atitudes alheias. Frequentemente ultrapassam os pesos nas balanças, cem, duzentos gramas, no que respondemos ao vendedor:
"_ Tem " portância" não...
Em diversas situações do cotidiano, sempre vem ela, precipitamente, talvez até pelo fato da cumplicidade momentânea nos envolver em um certo ar de simpatia, tolerância, neste contexto cada vez mais complexo que tem se tornado a vida. Há poucos dias, pronunciando tais palavras com um vendedor muito simpático de um estabelecimento comercial, fiquei martelando horas a fio sobre as atrocidades, barbáries em nosso país e mundo afora.
Oitenta e três tiros, fuzilamento pelos militares do Exército em um carro conduzido por um pai de família no Rio de Janeiro. Pronunciamentos morosos das autoridades retratam como dizemos aqui em Minas, o "pouco caso" que se dão quando é ceifada uma vida. Segundo disseram, foi um incidente. Pimenta não arde, quando não é no olho da gente.
Tenho apreço pelas leituras biográficas, talvez não tenha lido tantas como o atual Ministro da Justiça, embora lembro-me da última, por sinal de uma leitura agradabilíssima, "Livro de Jô, uma autobiografia desautorizada". Matinas Suzuki J R e Jô Soares - Companhia das Letras.
Estou relendo a biografia de Lima Barreto. Em 1915, esse grande escritor e jornalista, publicou no "Correio da Noite", um texto alertando sobre as enchentes na cidade do Rio de Janeiro.
Ei-lo:
Correio da Noite , Rio, 19-1-1915
As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.
De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.
Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.
O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares , dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral.
Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão.
O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio.
Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações.
Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.
WWW. O Globo. Globo. Cultura Acesso: 16 de Abril de 2019.
Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881 e faleceu nove meses após a Semana de Arte Moderna de 1922. Quão à frente de seu tempo foi esse homem importante, ah se foi...
Que fim teria o fidedigno patriota "Policarpo Quaresma" em tempos atuais, tão diversos de seus rituais?
"_ Tem " portância" não...
Em diversas situações do cotidiano, sempre vem ela, precipitamente, talvez até pelo fato da cumplicidade momentânea nos envolver em um certo ar de simpatia, tolerância, neste contexto cada vez mais complexo que tem se tornado a vida. Há poucos dias, pronunciando tais palavras com um vendedor muito simpático de um estabelecimento comercial, fiquei martelando horas a fio sobre as atrocidades, barbáries em nosso país e mundo afora.
Oitenta e três tiros, fuzilamento pelos militares do Exército em um carro conduzido por um pai de família no Rio de Janeiro. Pronunciamentos morosos das autoridades retratam como dizemos aqui em Minas, o "pouco caso" que se dão quando é ceifada uma vida. Segundo disseram, foi um incidente. Pimenta não arde, quando não é no olho da gente.
Tenho apreço pelas leituras biográficas, talvez não tenha lido tantas como o atual Ministro da Justiça, embora lembro-me da última, por sinal de uma leitura agradabilíssima, "Livro de Jô, uma autobiografia desautorizada". Matinas Suzuki J R e Jô Soares - Companhia das Letras.
Estou relendo a biografia de Lima Barreto. Em 1915, esse grande escritor e jornalista, publicou no "Correio da Noite", um texto alertando sobre as enchentes na cidade do Rio de Janeiro.
Ei-lo:
Correio da Noite , Rio, 19-1-1915
As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.
De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.
Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.
O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares , dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral.
Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão.
O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio.
Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações.
Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.
WWW. O Globo. Globo. Cultura Acesso: 16 de Abril de 2019.
Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881 e faleceu nove meses após a Semana de Arte Moderna de 1922. Quão à frente de seu tempo foi esse homem importante, ah se foi...
Que fim teria o fidedigno patriota "Policarpo Quaresma" em tempos atuais, tão diversos de seus rituais?