ACONCHEGO
Acho interessante, eventualmente construtivo, quando se fala de política e gestão pública, mesmo que presentes interesses contrariados, mágoas e até certa dose de ira. Normal. Até a ideia fixa, a obsessão, pode oferecer contribuição aos leitores. Há nítido parentesco com os arroubos ideológicos. Não é de hoje, foi assim no passado e o futuro a Deus pertence. Mas a vida que se vive é bem maior, muito mais séria que Bolsonaro, Lula, Moro ou Gilmar Mendes. Aposto que pouca gente ainda lembra a Luisinda, que gerou manchetes, comentários e vários debates, assim como, em curtíssimo prazo, ninguém saberá mais de Damares Alves - se é que muitos sabem atualmente. Portanto, tudo passa, felizmente. Só o que não passa é a importância capital da raiz do vivente. Até certa idade e consideradas algumas circunstâncias, via de regra você tem o aconchego de pais, avós, tios, irmãos. É uma referência, um porto seguro. Depois, vão-se os avós, os pais, os tios; irmãos ou primos próximos vão construindo seus próprios ninhos e seguindo caminhos geralmente diversos. Então, você tem sua mulher e, sobretudo filhos, um dia, netos, genros e noras e isto passa a formar suas “raízes”. Admitindo-se que você os tenha ou que, por esta ou aquela razão, não os perca. Na verdade, você é pouco “raiz”, talvez um tronco, um galho mais robusto. Nesta dinâmica, em determinadas situações, o “aconchego” é você mesmo, suas memórias, o seu pequeno mundo de satisfação e paz no tique-taque do relógio da vida. Mesmo que lute para ser muito relevante, no fundo será satélite. É o ciclo natural. Todos fomos bem pequenos e tivemos colo: às vezes, por mais independentes, desponta alguma saudade, ao menos apenas de sua disponibilidade. Mas, enfim, quando a gente cresce é assim mesmo.