O FANTASMA DA DEMISSÃO

Tão devastador - para o homem, pai da família - quanto ser traído e abandonado pela mulher, é a demissão do emprego ou a exoneração de certos cargos públicos em área não política, de onde provém parte substancial de seus ganhos mensais. Já acompanhei situações bem complicadas, quando a auto-estima do indivíduo escorre pelo ralo e as restrições financeiras afetam os pequenos. Ocupar cargo de confiança em segmento técnico, por mais tempo e eficiência que a pessoa tenha, é passo de risco e de compensação profissional bem relativa. Cada caso é um caso, naturalmente. A demissão do emprego é mais grave, pois pode significar a perda cabal do sustento. Por isto mesmo, sempre entendi que não deve ser encarada apenas sob o frio lado econômico. É bonito falar entusiasticamente em “empreendedorismo”, se não vivêssemos no Brasil e se o público-alvo fosse apenas de jovens, ainda dando os primeiros passos no mercado. É algo assaz importante, mas demanda vocação e grande empenho, além de apoio. E trato do assunto com certa autoridade, pois já fui demitido e exonerado. Sempre mantive outras atividades ou alternativas bem cultivadas, conseguindo escapar, em curto prazo, do sufoco, sem maiores sacrifícios. Mas houve momentos de angústia; nunca é fácil. Me virei, trabalhei, abri novos caminhos, melhorei muito a própria vida, tive sorte, enfim. E quem não a tem ou lida ainda com outros contratempos? Sempre tive propensão profissional “cigana”, era da minha natureza, mas acabou dando certo. Bem, eu concordo que necessitamos agora de reformas, mas é relevante assinalar que, sem um forte e amplo mercado consumidor interno, o nosso capitalismo morre à míngua do feijão com arroz. Os que exportam para a nossa querida Argentina estão tremendo as pernas, por exemplo. Ademais, o que se paga de tributo neste país é de enlouquecer o vivente e, por favor, não nos comparem com a Escandinávia ou com outros centros muito prósperos e bem servidos.