Palavra Solta - paixão em vermelho e negro

Palavra Solta - paixão em vermelho e negro

*Rangel Alves da Costa

Jamais imaginei que fosse assim, disse Pascácio Pascoal. Coitado do Pascácio, sequer lembra aquele rapaz alegre de antigamente, tão vivaz, tão sorridente. Como ele mesmo diz, agora não passa de um molambo. De tanto sofrer, já pensou até em fazer o pior: partir dessa vida sem deixar história nem recordação, pois levando consigo toda a dor do mundo. E que dor maior é a dor de uma paixão. Metendo-se a namorador, Pascácio deixava sua linda flor à janela, uma bela das mais belas sertanejas, e se danava pelos forrós a paquerar e a namorar. Então ela soube e avisou: “Da próxima vez que eu souber, também logo vai saber com quantas pontas se faz um corno”. Mas ele, metido a esperto, achou que poderia continuar enganando à donzela. E ela ficou sabendo. Ao primeiro retorno do namorador, ela apareceu com um cabo de vassoura e soprou-lhe nas fuças. “Vai-te embora e nunca mais acerte o caminho daqui!”. Foi como uma punhalada no peito. Achando que fazia tudo aquilo para causar ciúmes, de repente se viu na maior profundeza das solidões. Mandava bilhete pedindo perdão, aparecia ao longe ajoelhado, chorava, gemia, vivia em tempo de morrer. Tacou uma gilete nos braços e mandou um lenço ensanguentado como demonstração de amor. O que ela fez? Cuspiu e não quis sequer segurar aquela maluquice. Então, sem saída, ele prometeu se matar bem defronte à sua janela. Então ela disse que fosse e morresse mesmo. Ele foi. E o que avistou foi como a própria morte, pois ela já estava com outra companhia à janela. Então ele não suportou. Apertou-lhe o coração, deu um grito e caiu ao chão.

Escritor

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