NAVEGAR EM MAR SERENO
Cada um tem seu jeito de ser, além de suas próprias circunstâncias. Isto não é nenhuma “bula”, mesmo que pretenda ser um gesto de alerta para quem se deixa tomar pela inquietação ou por determinados caprichos. Para navegar em águas relativamente serenas é preciso alguma atenção a tópicos não raro desprezados. Ninguém pode viver bem se não cultivar um mínimo de cuidado para com amigos mais íntimos e parentes, pois não é adequado restringir-se a mundo tão pequeno que pode sufocar. Isto não anula o dia a dia de viver no seu canto, do seu modo. Se você ficar doente ou amargar dificuldades, não poderá jamais queixar-se por não ter sabido, antes, abrir um pouco mais a janela. Nada é mais importante do que os filhos, o que não exclui outras relevâncias. Antes da festa, da grande viagem, da aventura exuberante, todos têm uma prioridade material, por mais modesta que seja: aparelhar confortavelmente o seu ninho, pois é onde estão suas raízes mais fundas. Cada um dentro de suas possibilidades, naturalmente. Também não dá para passar uma semana em um hotel de luxo em Dubai e, na volta, economizar no churrasco, no vinho, no almoço familiar com filhos e netos. Há quem pense diferente e economize até na gasolina. Eu acho que o prazer de hoje não deve acarretar peso e grandes restrições futuros. Se você ganhou na loteria, tudo bem, mas não vai levar a família para uma pensão em Tramandaí ou no Farol da Solidão, no veraneio. Uma coisa é ser mesquinho, outra racional. Pior ainda é comprar um carrão, não importa como, e desesperar-se com a faculdade ou colégio pagos dos filhos ou com os custos dos planos de saúde, afinal, isto é Brasil, não é segredo e não vai mudar. Não é absolutamente tranquilo para ninguém e nem sei se o mar fica mesmo sereno, mas, como dizem, por que simplificar, se é mais fácil complicar?