"Desculturalização"
“DESCULTURALIZAÇÃO”
A cortina nem se abriu a peça acabou. Sim, a peça acabou. Mas por quê? Porque não tinha publico, ninguém veio para assistir e então cancelaram o espetáculo e anunciaram que a peça não seria mais exibida, vi o teatro vazio chorar e a performance que eu preparei com tanta dedicação, não seria apresentada. Nem a sirene soou, pois de tristeza, também ficara muda. Junto com o teatro, eu também chorei. Sequei minhas lágrimas nas cortinas e ali no pé direito, tropecei meu pé esquerdo e fui cair na coxia completa e totalmente só. Não houve primeiro segundo ou terceiro ato,
Não, o povo não quer mais ir ao teatro, não quer mais ler um livro e nem ouvir musicas de qualidade. O povo não busca mais nas artes diversão para os olhos, para a mente e para o coração. Estamos fadados a assinar o nosso próprio testamento de desculturalização.
O que hoje a mídia mercantilista quer ver é os jovens (E por vezes até adultos) consumindo tudo que chego a chamar de escória auditiva e visual.
Não mais poesias, não mais serenatas, não mais concertos, não mais saraus, não mais cine clube para discutir o filme exibido.
Rasgaram as telas, as partituras, quebraram os verdadeiros instrumentos, que antes, colados ao corpo sonorizavam sentimentos de amor, candura, lirismo e fascinação.
Talvez, essa minha visão esteja assim tão aguda, face aos meus 50 e poucos anos de existência após ter contemplado tanta coisa bonita que hoje para muitos são coisas ultrapassadas.
Dêem-me a chance de mostrar que não estou assim de todo errado. Voltemos aos teatros, aos cinemas, aos bailes dançantes de primavera onde cortejar uma garota era a parte mais atraente desses eventos, onde dançar de rosto colado, andar de mãos dadas e arriscar o primeiro beijo era a maior das expectativas desses encontros memoráveis, promovidos pelas emoções recíprocas entre garotos e garotas.
Olhem o quadro clinico do tempo atual. Meninas engravidando antes de deixar suas bonecas, meninos portando armas, assaltando e tirando vidas por conta de um aparelho de celular, um tênis, uma jaqueta de couro ou simplesmente por não ter simpatizando com o outro que sem querer lhe dirigira um olhar.
Vede hoje as escolas sendo invadidas por marginais que atiram e tiram tantas vidas que nada tinham a ver com seus problemas de desprezos sociais e ou familiares, distúrbios mentais ou consumo de algum tipo de drogas. Drogas, essas drogas estão matando nossas ações de sermos vistos como seres humanos que viemos a este mundo para nos divertir e nos familiarizar com o belo, o lúdico, o sagrado e o profano, sem profanar a nossa moral ou ferir alguém com gestos e ações comportamentais, físicas e ou verbais. Em que nos tornamos, será que somos inimigos até de nós mesmos?
O espírito religioso, familiar, cultural, está sendo morto a cada instante numa dessas esquinas que antes passeávamos de mãos dadas saboreando sorvetes ou ouvindo musicas de parque animado pela sonorização de alto falantes que nos faziam sorrir e sonhar.
Hoje, com os meus 50 e poucos anos vivo de lembranças e sinto saudades até de mim.