Outra Perspectiva
Considero simplista a análise que foca no óbvio, no simplório, na evidência, mas não por não devermos nos ater ao evidente, mas sim por estarmos enredados em uma não-evidência que se faz por um discurso prévio, ou que se sustenta por um único foco.
Pensar nos massacres feitos por estudantes em escolas e categorizar por pontos comuns como: são homens, estudantes, são da classe A ou B, de famílias assim ou assadas, imigrantes ou não, apenas faz com que se encubra o óbvio por uma obviedade rasa.
As escolas, ponto-chave dos ataques, apesar de algo óbvio, parecem não estarem em evidência por perspectivas variadas. Como um sistema moldado pela disciplina, representante de valores institucionais se torna o palco de espetáculos de terror? Sob que circunstâncias vive-se em um ambiente repleto de uma infinidade de processos que atravessam os indivíduos ali inseridos, com repercussões fora do seu espaço, onde diversas realidades se confrontam no dia-a-dia? Rotineiramente, estruturas de desvalorização educacional reiteram negatividades a respeito das escolas, marginalizando as práticas educacionais e trazendo à baila apenas em momentos em que o terror, explicável, explode a ponto de não mais poder estar relegado à obscuridade diária. Indo adiante, que reflexos realmente podemos enxergar nesse ambiente micro de relações, que faz com que a sociedade ainda se choque com aquilo que lhe é comum, já que cotidianamente programas televisivos dão crédito a atos violentos, inclusive assegurando sua audiência a partir de um público que parece necessitar de sua cota diária de horror. Não é uma questão restrita a educandos, envolve todos os atores da composição e os de fora do ambiente que não deixam de influenciá-lo. O que alimenta um ódio que chega a ser suicida, pois é dirigido contra seus iguais, pois todos estão reduzidos a condição de estudantes, com seus uniformes que procuram criar as simetrias, tolhendo qualquer extravagância, ritmando os gestos, direcionando sinais para aderirem às normas. Algo realmente está muito contraditório em nossa sociedade, que todos os dias prega valores que não repercutem nas vidas das pessoas, pois se necessitam de aportes, medicamentos, gurus, significa que caminham por passos muito incertos. Não são rebeldes, pois são indivíduos dispostos a acatar ordens como ninguém, são o exemplo da obediência que tornou eficiente as práticas de campos de concentração, indiferença, ódio, rejeição, intolerância, misantropia. No fim, medo em existir, medo de um gesto de afeto, porque desconhece as benesses da empatia, do outro que lhe é próximo justamente por não ser o mesmo. Tragédias como a de Suzano, diminuem a todos nós, pois representa a falência desse mundo idealizado, mas ao mesmo tempo devem fazer eclodir do mesmo medo, a força de resistência, que vai experimentar o que é amar e não se armar.