UM FRANCÊS EM PORTO ALEGRE EM 1971
GÉRARD BONY me acolheu em Paris, pela metade da minha estadia, em 1967, e nos tornamos grandes parceiros, confidentes e amigos por vários meses de intenso convívio e muitas aventuras. Somos amigos até hoje. Quando me casei, em 1971, convidei-o, naturalmente, para ser um dos padrinhos. Lá se veio Gérard, que repetiu inesperadamente o feito em 1972, pois se apaixonou pela minha cunhada. Tornou-se amigo de minha família, assim como do clã Gastal de Menezes. Eu, recém casado, não pude acompanhá-lo em todas as suas empreitadas. Então, seus parceiros dedicados foram Rosa – a cunhada – meu pai, minha mãe, meu irmão Ricardo, alguns amigos da época e a família de Laura. Gérard, parisiense da gema, espantava-se de ver carroças nas ruas da cidade e animais soltos pastando às margens do Guaíba, quando se dirigia à zona sul. Aliás, certa feita, foi a pé da Avenida Senador Salgado Filho até a Rua Chavantes, na Vila Assunção, para encontrar sua paixão amorosa. Gérard espantava-se quando comíamos espigas de milho cozidas, pois insistia que aquilo era alimento para cavalo. Meu pai, empolgado em arranhar seu Francês colegial, levou esse amigo por tudo, inclusive ao litoral e à Gramado. Houve uma ocasião, não lembro se na sua primeira ou segunda estadia (sempre dormindo na casa de meus pais), que resolveu visitar um compatriota seu, Monsieur Nicolau, que vivia em Taquari. Meu irmão Ricardo, com 14 anos, serviu-lhe de acompanhante e intérprete, já que Gérard não falava um ovo de Português. Ricardo, aliás, não era tão melhor no Francês. Não achavam o endereço e acabaram na Prefeitura Municipal, tête à tête com o Prefeito. Afinal, descobriram a correta localização das terras do minifundiário. Na volta, Gérard foi generoso: comprou num camelô um pente de plástico para meu irmão. Não sei o que deu nele, não era um tipo completamente sovina, inclusive, quando eu e a esposa estivemos um mês em Paris, em 1972, num apartamento de periferia que ele nos emprestou, fez questão de oferecer-nos jantar completo no MOULIN ROUGE. Ademais, quando queria algum programa aqui em Porto Alegre, fazia questão de frisar: ”l’argent n’est pas problème”, lema que eventualmente usamos para justificar algum interesse muito forte. Só que, na verdade, o franco francês dava um baile no cruzeiro, como sói acontecer com as moedas do primeiro mundo em face do real.