Brasil, uma nação oblíqua.
As milícias nada são além de um sintoma inequívoco da verdadeira síndrome da qual os brasileiros não conseguem se livrar.
A aversão ao lícito é tão presente na solução de problemas que não raro executamos manobras mirabolantes para resolver questões do cotidiano. Afastamos a simplicidade reta e fazemos a opção oblíqua por mais difícil que seja.
Extrair isso da nação é bem mais complicado do que trocar os políticos eleitos, os gestores dos poderes estabelecidos ou mudar toda uma legislação.
É preciso mudar um consciente coletivo (se é que podemos chamar assim) e isso não acontecerá enquanto cada indivíduo não se perceber como erva daninha… Freud não explica, mas nos possibilita o caminho ao nos contrapor com o inconsciente.
Mas quantos de nós teríamos a coragem para fazê-lo?
Quantos assumiríamos que preferimos eliminar uma vida que eclipsa nosso objetivo a tentar convencê-la pelo confronto de ideias e argumentos?
Apertar um gatilho parece ser bem mais fácil.
A ideia é tão sedutora que a mímica da “arminha” ganhou as ruas e a presidência da República.
Somos tão apaixonados por gatilhos que muitos ainda sentem saudade dos instrumentos de lobotomia utilizados no passado e veem como uma possibilidade para implementar a educação e disciplina de seus filhos.
Nem ponderam que o hasteamento de bandeiras enquanto nos perfilamos entoando o hino nacional, o ensino de Educação Moral e Cívica não garantiram que aquela geração de crianças e adolescentes (hoje, adultos acima dos 50 anos) se tornassem bons cidadãos e governantes.
O “difícil e o fácil”. O reto e oblíquo” assim como o “legal e ilegal” são valores que admitem relativização para atender anseios da sociedade que, mutáveis por essência, propiciam o surgimento de valores, assim como podem fazê-los sumir em função de novas percepções.
Há muito que os brasileiros optaram por excluir de seus instrumentos de poder, a utilização de jagunços e matadores de aluguel. Tais práticas foram colocadas no rol de crimes, portanto é de se imaginar que hoje ninguém se sentisse ameaçado por tal libelo, ou que dele lançasse mão para solução de conflitos. Mas eis que o vemos a cada notícia, se aproximar do núcleo de comando do país, sendo inclusive homenageado, recebendo monções honrosas em casas parlamentares…
Não é admissível, em uma nação com valores humanistas, que um parlamentar desista de tomar posse sob ameaças contra sua vida e nenhuma investigação seja sequer requisitada pelas autoridades competentes. Em vez disso, o que se viu pelas redes sociais, foram o presidente da República e seu filho (deputado federal) fazerem chacota com o caso. Repugnante sim é repugnante.
Humanidade... há muito que se pensar sobre os valores aí encerrados.
A conclusão não pode ser fechada, mas há que se ponderar (ainda que não se obtenha uma resposta concreta e nesse caso, o oblíquo é relativo): O que somos, se nossos heróis são milicianos?