"amor" & "AMOR"
“amor” & “AMOR”
Entre as inúmeras manias que este pobre cronista de interior insiste em colecionar está a de frequentemente escrever a palavra “AMOR” assim, com todas as letras maiúsculas.
Deve-se, no entanto, esclarecer que tal mania não vem do nada. Tem uma razão bastante plausível, a saber: a crença do mesmo na ideia de que existem dois tipos de Amor, os amores e os AMORES.
Os primeiros são primos próximos da paixão. Duram pouco. São tão efêmeros quanto o fogo fátuo. Seu prazo de existência é tão curto quanto o tempo que se leva para se dizer um “Eu te amo!”. Jamais ultrapassam o plano das belas palavras. Deixam-se matar por qualquer mínima distância e pelos desafios do íntimo convívio diário. Impõem limites e exigem condições. Desabam ante os efeitos da primeira provação.
Os segundos, por sua vez, são diferentes. Irmanam-se de modo quase idêntico à divindade. Nascem do eterno e para o eterno. Manifestam-se em atos mais do que com palavras. São puros e adimensionais. Sua intensidade se origina do caráter incondicional que apresentam. Fortalecem-se mais a cada provação que vencem.
As cadeias erigidas pelo amor se rompem logo, enquanto aos laços tecidos pelo AMOR são dados os benefícios da imortalidade e da indestrutibilidade.
Famílias construídas pelo amor não passam de meros aglomerados de gente. Já as famílias geradas pelo AMOR são escolas de almas.
Relações baseadas no amor se dissolvem com um simples sopro do destino. As relações firmadas no AMOR, por sua vez, transcendem, até mesmo, o restrito espaço da Vida Terrena.
A rápida satisfação de um prazer fulgaz é inspirada pelo amor. O AMOR, a seu turno, inspira a contínua e plena completude dos seres que une.
A vocação do amor é perder-se com o tempo. A vocação do AMOR é achar-se na eternidade.
Aos amores, portanto, resta a banalidade, enquanto os AMORES são sublimes.
Hebane Lucácius