A GRANDEZA DAS ARTES

O desfile de uma escola de samba pode ser uma obra de arte ou uma simples agitação panfletária, um clichê, um entrevero com certo ritmo e mulheres desnudas. Uma pintura abstrata pode empolgar e despertar emoções, assim como nos levar ao pensamento de que um netinho faria a mesma coisa em seus momentos de operosidade infantil. Pode-se dizer o mesmo de uma escultura ou de qualquer criação artesanal. A diferença entre o belo e o bizarro é uma linha muito tênue, que o bom artista geralmente conhece. A arte de escrever é uma das mais perigosas. O poeta, o cronista, o romancista, o escritor, enfim, tem de saber necessariamente até onde vai a sedução da engenhosidade literária. O pernóstico, o pretensioso, o filósofo de almanaque, o tecnicista - sem alma e sem mensagem – cansam e enjoam como mulher sem charme ou apelo. Produzem, aparentemente, bons textos, mas o leitor preferiria uma coluna social do Ibrahim Sued ou do nosso grande Paulo Santana. E então? É muito difícil ser Machado de Assis, isto não se discute, mas até Paulo Coelho quebra o galho. Não é por nada que ficou milionário e é um dos autores mais lidos no mundo. Não gosto dos textos dele, mas sou um grão de areia na praia em que ele faz sucesso e desfila. Não defendo o “popularesco”, longe disto, mas os novos tempos dispensam o grego e o latim, tudo tem de ser mais simples, ágil, direto. Fazer o quê? Gosto muito dos textos do Arnaldo Jabor, na praia das crônicas. É só um exemplo. Nem sei se ele é fundamentalmente cineasta, cronista ou comentarista, nem mesmo concordo com várias de suas ideias, mas eu o considero talentoso. Bom, nem sempre um compositor faz boas músicas. Há uma ou outra música dos Beatles que eu detesto, por exemplo. Enfim, nem tudo que é esquisito é artístico e nem tudo que é artístico agrada, ainda que possa ter valor. O aprendiz, como eu, que se rale!