"Arranha céu de madeira"
Eu bato de frente, com um mundo que quer me ver pelas costas. Meu jeito inconfundível de proletário é como cheiro de gasolina: Dá para sentir de longe. E ai, a segregação torna-se inevitável.
Mais um no meio de tantos buscando espaço... espaço, com um céu tão imenso e eu aqui na terra procurando um espaço, para que seja aceito como sou e da forma que acredito ser. Se o sonho é azul, porque as cidades tem os seus tons de cinzas?
Argamassa, cimento, concreto, vigas, estruturas que agem nas nossas vidas como prisões. Tudo foi feito para nos prender: Elevador, ônibus, apartamentos. Grades que nos protegem entre janelas e portões simples até as mais altas e luxuosas construções que se elevam a cada dia, não com a mesma força das décadas de 30, 40 50, onde o impulso maior da construção civil fez elevar os altos padrões de moradias, mas já planejavam grades, de proteção.
Somos presos por essas formas quadradas que nos guardam. O Escritório do Dr. fulano de tal é quadrado. São os eqüiláteros que nos aprisionam numa fingida liberdade. É como se o povo vivesse para ser trancado para que assim não possa ver e nem sentir o que acontece nas redondezas do seu existir,
Em 1940/50 os passeios em construção convidava os passos para desfiles ao som dos pingos da chuva que regiam o compasso do caminhar.
Do outro lado, mais afastado dos grandes centros, as favelas iam se erguendo, criando força e forma de segregação, de pessoas que ali viviam, e por vezes, eram obrigados desviar da lama para atingir o asfalto e partir em busca da luta do seu emprego.
A vida ali sim, já era difícil, onde a céu aberto o esgoto era visto como cenário comum, onde também ali exercia a exploração da venda de barracos (OS CORRETORES DA MISÉRIA) já existiam e cobravam caro para que os tantos sem muita coisa que tinham, eram obrigados a se sujeitar na aceitação da oferta. Faz-me lembrar da leitura que fiz do livro A NOITE DO DESPEJO, do poeta escritor e Diretor, Joilson Kariri, onde ele retrata a vida tão difícil, daqueles que nunca souberam o que era tê-la por facilidades adquiridas.