TRABALHO LIVRE

A gente trabalha na vida para sobreviver condignamente e de modo independente, para ser útil à sociedade e para não sucumbir às tentações ruinosas da vagabundagem. Mas o trabalho é ainda maior do que isto tudo, como o voluntariado, aquele ideológico-partidário ou eminentemente social, sem qualquer interesse material. Você pode ser do Rotary, do Lions, Maçom ou devotado a um clube de futebol, por exemplo. Beleza, desde que não exista intenção de proveito próprio. Os artistas produzem seus quadros, esculturas, seja lá o que for e ninguém duvida que seja trabalho. A única coisa importante é que o indivíduo sustente a si e aos seus, independentemente, o resto é liberdade criativa e devoção. Se falta dinheiro, que abra um boteco ou faça um concurso público, sei lá. O problema, então, já é outro. Como diz o adágio português “Quem não tem competência, que não se estabeleça”. Há muito pouco tempo, resolvi assumir, não por mérito, mas por dedicação o título abusado de “escritor”. Não pretendo editar mais livros e não quero ganhar um centavo com isto, nem elogios ou galardões, sinceramente. Há gente muito talentosa nesta seara. Só não estou mais aceitando que digam que não trabalho. O que já foi hobby, hoje é constância. Acho que, tirante minhas deficiências, também estou contribuindo para dias melhores. Não tenho aptidão para cuidar de velhinhos em asilo, mendigos de rua, presidiários, menores infratores ou coisas do gênero. Inútil não quero ser e, tanto quanto o pintor, o escultor, o poeta, acho que o meu trabalho livre e desinteressado pode sempre trazer um mínimo de benefício a quem tem interesse. Não é necessário ser um talento ou um “best seller” para contribuir. Nem todo artista é Bibi Ferreira, mas a grande maioria sempre acrescenta alguma coisa. Portanto, ainda trabalho, sem qualquer restrição ou embaraço ao ócio virtuoso, que me propus cultivar.